Nossa reflexão de hoje é sobre os sentimentos,
particularmente o de culpa. Segundo a literatura de Narcóticos Anônimos, “é um dos obstáculos mais comuns que
encontramos em nossa recuperação” e um dos mais graves.
Podemos
subdividir a culpa em duas: aquela que colocamos ou transferimos para as outras
pessoas – que chamaremos de ressentimentos – e aquela que sentimos em relação a
nós – que vamos denominar como culpa mesmo.
No
caso dos ressentimentos, geralmente são resultado de um pensamento determinista
e da dificuldade em assumir responsabilidades. Projetamos este tipo de pensamento
nas outras pessoas e situações.
Notadamente,
sofremos influências genéticas, psicológicas e ambientais. Entretanto, racionalizamos
que o DNA de nossas gerações anteriores, a educação que recebemos de nossos
pais e o ambiente, circunstâncias e condições que vivemos são culpados pelo
nosso comportamento. Estamos condicionados e impedidos de agir diferentemente.
Acreditar
no determinismo pressupõe reconhecer a ausência da liberdade de escolha e, por conseqüência,
das responsabilidades. Assumir responsabilidades implica, por outro lado,
assumir irresponsabilidades. Tornamo-nos pessoas reativas. Ao invés de procurar
alternativas, acreditamos que não há nada que possamos fazer.
É
verdade que algumas vezes nos magoamos com algumas pessoas. Entretanto, este
tipo de sentimento está associado ao não cumprimento de nossas exigências e
expectativas elevadas em relação aos outros, de nossa intolerância com os
outros que na verdade é o reflexo da dificuldade em perdoar a nós mesmos.
Com
relação à culpa propriamente, ela pode ser real ou imaginária. Se real, é
resultado do que fizemos em função de drogas ou continuamos fazendo em razão de
nossa personalidade. Se imaginária, creditamos a nós a responsabilidade por conseqüências
oriundas de algumas situações.
De
qualquer maneira, há que se fazer uma intervenção cognitiva de forma a reconhecer
que alguns comportamentos foram resultados de nossa obsessão por substâncias
psicoativas (SPA) e foram reparados direta ou indiretamente, assim como
identificar pensamentos destrutivos e perceber outras forças agindo em
situações em que imaginamos que as conseqüências são nossa culpa. Além de que,
agora abstinente de drogas, recuperamos nossa liberdade e podemos escolher de
acordo com uma nova consciência e mesmo errando, vamos encarar o erro como um
aprendizado e não como fracasso.
Neste
sentido, é preciso humildade para reconhecer que não somos o gigante que
pensávamos, mas também não somos o anão que temíamos. Somos seres humanos e os
desafios fazem parte do aprendizado.
Assim
também conseguiremos perdoar as pessoas, evitar ressentimentos, sair da
auto-obsessão e diminuir os sentimentos de raiva e ira.
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