Nossa reflexão de hoje é sobre a necessidade de
prioridades e simplicidade em nossas vidas.
Já discutimos em outros textos como o
relacionamento com álcool e outras drogas podem desenvolver no dependente
químico muitas inabilidades e uma ideia muito vaga de vida de forma geral.
Enquanto a maioria das pessoas passava pelo processo natural de
desenvolvimento, assumiam responsabilidades, enfrentavam, aprendiam e cresciam
com os desafios, entre outros, o dependente químico refugiava-se em substâncias
psicoativas (SPA).
Por conseqüência, adquirimos o hábito de
superdimensionar as dificuldades, quando elas existiam, e transformá-las em
problemas. Em recuperação, muito se ouve sobre as diferenças entre dificuldade
e problema. Procuramos pesquisar e refletir um pouco a respeito de quais
seriam. A dificuldade pode ser entendida como obstáculo, embaraço, apuro,
contratempo, dúvida. É aquilo que é ou pode tornar algo difícil. No entanto,
seria mais fácil contorná-la e as conseqüências, geralmente, não são tão
graves. Por outro lado, o problema pode ser algo mais difícil de lidar e/ou
resolver, principalmente porque, geralmente, compreende um conjunto de
dificuldades. Exige uma solução mais elaborada e suas conseqüências, de forma
geral, são mais drásticas. Segundo a filosofia, é algo que perturba a paz e/ou
harmonia de alguém que possui algum.
As conseqüências pelas quais este tipo de
personalidade é responsável também estão muito associadas à obsessão, ou seja,
pensamentos fixos em alguém ou alguma coisa sobre os quais temos nenhum
controle. Sempre, em nossas vidas, dizemos sim e não tanto para tarefas e
outros como também para pensamentos, do ponto de vista cognitivo. Na medida em
que nos concentramos e não reestruturamos pensamentos como estes, eles são
alimentados e nos levam quase que à paralisação porque não conseguimos prestar
atenção em quase mais nada.
Por exemplo, o agendamento inesperado de uma
avaliação na escola ou faculdade, ao invés de nos estimular, por exemplo, a
revisar o conteúdo estudado desde a última avaliação, pode nos paralisar com a
ideia e o medo de que iremos mal, principalmente se já passamos por alguma
experiência dramática parecida.
Quando entramos em recuperação, podemos nos
assustar com a observação da necessidade de mudança radical em nossas vidas em
razão da orientação que elas adquiriram em nossa ativa. A filosofia do “Só Por
Hoje” lembra que nossas vidas ficam mais fáceis e mais produtivas quando
vivemos um dia de cada vez. No entanto, ainda assim, um dia pode ser muito.
Neste caso, é sugerido que vivamos um momento de cada vez.
Mesmo de momento em momento, é provável que
tenhamos algumas dificuldades e/ou problemas para contornar ou resolver. Por
isso, é extremamente importante a definição daquilo que é prioritário, ou seja,
fazer por primeiro as coisas mais importantes. Segundo Goethe, “as coisas mais importantes nunca devem
ficar à mercê das menos importantes”.
Por outro lado, a necessidade de priorização aponta
para outra: a de planejamento. Não conseguimos reconhecer aquilo que é
prioridade sem antes identificar e definir aquilo que é importante. Precisamos
de alguma referência. Viver um dia de cada vez ou de momento em momento não pode
ser confundido com um tipo de vida em que vivemos sentados em um banquinho
esperando algum fogo ao nosso redor para apagarmos. Assim, nossas vidas não
fazem qualquer sentido. Sonhos, objetivos, metas são necessários.
Assim como, precisamos assumir a disposição da boa
vontade no sentido de fazer algo mesmo que não seja nossa vontade ou desejo. Segundo
Gray em seu livro “O denominador comum do sucesso”, “as pessoas bem-sucedidas têm o hábito de fazer coisas que os que
falharam não gostam. Elas não gostam de fazê-las, tampouco. Mas sua
contrariedade se subordina à força de seus propósitos”.
Por fim, simplicidade não significa fazer as coisas
mais fáceis. Por exemplo, o economista comportamental Daniel Pink, em seu livro
Motivação 3.0, descobriu que uma fonte de frustração no ambiente de trabalho é
o desencontro freqüente entre o que se precisa fazer e o que se pode fazer.
Quando o que é preciso fazer está além de nossa capacidade, o resultado é a
ansiedade. Quando o que é preciso fazer está aquém de nossa capacidade, o
resultado é o tédio. Como resposta, ele criou o conceito de “tarefas cachinhos
dourados” para desafios nem muito interessantes, nem muito chatos, nem
especialmente difíceis nem especialmente fáceis. É um conceito muito
interessante que podemos utilizar em nossa recuperação.
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