Nossa reflexão de hoje é sobre as várias limitações
que impusemos a nós mesmos durante nossa adicção ativa.
Aprendemos que a qualidade de nossas vidas e o
sucesso depende muito da visão que temos de nós mesmos. Já discutimos aqui que
dependentes químicos tendem a desenvolver uma personalidade baseada no
determinismo em oposição à autodeterminação. Como conseqüência, vivíamos tentando
das mais variadas formas provar a nós mesmos que as qualidades que tínhamos eram
suficientes para nos destacar em relação aos outros.
Assim, os desafios e os esforços de aprendizado
eram ameaças a nossa auto-imagem. Notadamente com o tempo, nossas características
se revelaram insuficientes porque ninguém consegue manter uma máscara durante
muito tempo e, principalmente, as outras pessoas participavam do processo
natural de desenvolvimento. Tínhamos a sensação de fracasso e se nossas
características não poderiam mudar de acordo com o código mental fixo, não
havia nada que pudéssemos fazer. Perdemos a autoconfiança. Abrimos mão de
nossas escolhas. Como pensávamos, de fato nossos comportamentos passaram a ser
resultados de condicionamentos e circunstâncias da vida.
Com isso, qualquer auto-avaliação era muito
difícil. Com honestidade, era impossível. Pensávamos que seria doloroso demais descobrir
quem éramos realmente. Começamos a criar idéias exacerbadamente limitadas em
relação a nossas potencialidades no trabalho, na escola, enfim, a tudo que podíamos
pensar em fazer. Auto-obsessivos e desconfiados, nossos medos nos cerceavam,
nos impediam de viver.
Em razão do medo da autodescoberta, das
experiências com as pessoas que nos relacionávamos e da projeção destas na
sociedade de forma geral, também desenvolvemos uma ideia negativa, cética e
desconfiada dos outros.
Este conjunto de idéias egocêntricas, destrutivas,
exigentes e ineficazes influenciou nossa qualidade de vida que era péssima.
Mudar estas idéias seria muito difícil. Mas segundo
a literatura de Narcóticos Anônimos (NA), “mais
do que qualquer outra coisa, uma atitude de indiferença ou intolerância com os
princípios espirituais irá derrotar nossa recuperação”. Assim como
honestidade e boa vontade, o princípio da mente aberta, ou seja, a disposição
irrestrita ou incondicional para aceitar novas idéias, idéias diferentes, é um
princípio básico. Sem ele, não entramos em recuperação e ao fazê-lo continuamos
no caminho da autodestruição, em oposição à vida. Não estamos transbordantes de
mente aberta, mas precisamos começar a mudar. Também segundo a literatura, “uma nova ideia não pode ser enxertada numa
mente fechada”. Mas precisamos de novas idéias.
As experiências de companheiros em recuperação
apontam que simplesmente a freqüência às reuniões, a identificação com outros
adictos e alguma boa vontade de forma geral são capazes de começar a abrir
nossas mentes para novas idéias e experiências. Segundo Freud, “nunca tenha certeza de nada porque a
sabedoria começa com a dúvida” e Einstein, “a mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho
original”.
Com esta atitude positiva, começamos a superar
nossas limitações na medida em que percebemos que outras pessoas que passaram
por dificuldades parecidas assim conseguiram. Começamos a entender o papel da
proatividade em nossas vidas, a acreditar que mesmo sofrendo influências
genéticas, psíquicas e ambientais, entre o estímulo e a resposta há um espaço
que é a liberdade de escolha. Começamos a acreditar que se outras pessoas
conseguiram mudar suas vidas e agir diferentemente, também podemos. Começamos a
identificar nos desafios e erros a possibilidade de aprendizado e crescimento.
E por fim, ficamos menos resistentes aos apontamentos e críticas, reconhecendo
neles uma importante ferramenta de ajuda no sentido de nos auxiliar a descobrir
algo que precisamos mudar que sozinhos não conseguimos.
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