Hoje falaremos sobre o despertar espiritual e o
primeiro passo de Narcóticos Anônimos (NA) em geral.
Antes do despertar espiritual, que logo explicaremos
o significado e suas causas, do reconhecimento de que tínhamos problemas com
drogas e da decisão de abandoná-las, algumas características eram comuns a
todos nós.
Estávamos submersos em um processo denominado
negação em que buscávamos provar para nós mesmos e para os outros que não éramos
dependentes químicos. Racionalizamos no sentido de que conseguíamos ficar algum
tempo sem usar drogas, que o modelo social de dependente estava muito distante de
nós. Justificamos que nossos problemas eram exteriores e caso mudássemos de
amigos, emprego, escola, universidade, cidade, deixássemos de morar com nossa
família, entre outras coisas, nossas vidas iriam melhorar. Tentamos somente beber
e/ou usar drogas mais fracas, usar com pessoas diferentes, somente em algumas
situações, ficar abstinente por um tempo para depois controlar, mas nada deu
certo.
Por outro lado, em razão do nosso medo de rejeição,
assim como da nossa insana preocupação em agradar os outros, criamos uma
personalidade para apresentar às pessoas quando não estivéssemos isolados.
Vestimos máscaras com medo de que as pessoas pudessem descobrir que usávamos drogas,
o que fazíamos para consegui-las, que éramos fracassados porque nossos sonhos
tinham a droga como limite, que éramos egoístas, entre outros, enfim, a verdade
sobre nós e nossa doença.
Entretanto, chegamos em um momento que o
descontrole e/ou sofrimento são tão grandes que não conseguimos mais disfarçar.
Mesmo que alguns AINDA não tenham perdido bens materiais, amigos, família,
emprego, vida social, entre outras coisas, encontraram o fundo de poço
espiritual e emocional. É aqui que começamos a reconhecer nossa doença e pedir
ajuda.
Descobrimos que não podemos controlar o consumo de
quaisquer substâncias psicoativas (SPA), mesmo o álcool. Que ela nos afeta
física (compulsão, descontrole, agir sem considerar as conseqüências), mental
(obsessão/pensamentos fixos), espiritual (egocentrismo e vazio espiritual),
social (isolamento) e emocionalmente (inabilidades). Que é progressiva (em
razão da tolerância de nosso organismo que aumenta com o consumo), incurável
(em razão de nossas memórias, principalmente aquela que experimenta uma carga
sem precedentes de dopamina oferecendo prazer e euforia) e fatal caso não seja
interrompida. Começamos a refletir como e quais áreas de nossas vidas foram
afetadas.
Com a abstinência, descobrimos, também, que temos
inabilidades mesmo sem drogas. Nossos pensamentos costumam seguir um padrão
obsessivo com pensamentos automáticos, erros cognitivos, esquemas mal
adaptativos, influenciando nossas emoções com as quais não conseguimos lidar e
comportamentos que não conseguimos controlar. Somos transtornados.
Todavia, admitindo nossa impotência, não somente em
relação às drogas, mas principalmente em relação a nós mesmos, como
funcionamos, abrimos caminho para a mudança. Este é considerado o paradoxo do
primeiro passo. Admitimos a derrota para vencer. Não precisamos mais entrar no
ringue. Não precisamos mais lutar para provar que podemos controlar e/ou não somos
adictos.
Este processo chama-se rendição. Ele inicia-se com
a admissão da impotência e descontrole, passa pelo abandono de reservas ou
restrições em relação ao programa de 12 passos e termina, tratando-se do passo
um, com a aceitação de que a recuperação é a solução para uma nova maneira de
viver.
O determinismo, tanto genético quanto psíquico e
ambiental, pode nos levar a acreditar que não há nada que possamos fazer.
Aquilo que está em nosso DNA, assim como as experiências que vivemos durante nossa
formação já condicionaram nosso comportamento e, portanto, não temos outra
escolha. Mas, na verdade, somos autodeterminados, nós decidimos o que fazer.
É certo que, em razão de nossas expressivas
dificuldades, não conseguiremos sozinhos, mas é empiricamente possível com a
ajuda da programação, de profissionais, da autodisciplina e determinação, entre
outros.
O Primeiro Passo é o passo mais importante porque
decidimos viver, assim como é um passo de muita ação. Segundo um ditado chinês, “uma
jornada de mil quilômetros começa com o primeiro passo”. É preciso muita
iniciativa para dá-lo. O despertar primário pode ser considerado um
estimulante, incentivador, a condição fundamental. Mas é preciso ter atitude.
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