Nossa reflexão de
hoje é sobre a abstinência como condição para a recuperação, assim como o papel
desta na transformação do dependente.
Mesmo na ativa, ou
seja, fazendo uso de substâncias psicoativas (PSA) ou drogas recreativas que
alteram a mente, acreditamos que se o dependente químico fosse questionado
sobre as motivações que o levam a usar, com exceção de casos extremos de
obsessão e compulsão, provavelmente a maioria saberia responder: influência,
status, para se sentir parte de grupos, prazer, sensação de superioridade, anestesiar
sentimentos, obsessão, compulsão, entre muitos outros.
Por outro lado, pensamos
que o reconhecimento dos perigos parece um pouco mais difícil ou então mesmo
reconhecendo-os perdeu a possibilidade de escolher ou não acredita que algo
ruim pode acontecer com ele.
Em recuperação, provavelmente
todos chegamos à conclusão de que estávamos seguindo o caminho da morte e
autodestruição. Conforme sugere a literatura de Narcóticos Anônimos (NA), comprávamos
nossa destruição às prestações.
Entretanto, não se
tratava apenas de um processo que se desenvolvia e naturalmente conduziria à
morte. Os riscos que envolviam o uso, as pessoas com as quais nos relacionávamos,
os ambientes sociais que freqüentávamos, as situações de perigo em que nos envolvíamos
eram ameaças muito presentes em relação à morte que poderia acontecer a
qualquer momento.
Com o desenvolvimento
de nossa recuperação, descobrimos que mesmo sem drogas não tínhamos aprendido a
viver, ou seja, nossa personalidade adictiva se estendia a quase todas as áreas
de nossas vidas. De forma geral, nossos pensamentos e convicções são automáticos
negativos, destrutivos, exigentes e egoístas, não temos habilidade para lidar
com as emoções e nossos comportamentos, por conseqüência, são inadequados.
Por isso, a primeira
condição para a mudança é a abstinência. Sem ela conseguiremos fazer muito
pouco em favor da nossa recuperação, principalmente considerando quão
condicionadas podem estar nossas ações. Provavelmente passaremos ainda por
muitas situações que nos levaram a usar, entretanto é preciso que assumamos
nosso compromisso com a recuperação. Neste caso, é fundamental lembrar-se de
onde viemos e daquilo que fazia parte de nossa ativa, principalmente do ponto
de vista espiritual, assim como onde poderemos terminar.
A abstinência é uma
condição necessária, mas não é suficiente. Considerando nossa personalidade,
precisamos de uma revisão detalhada do nosso conjunto de valores e,
principalmente, uma reforma íntima completa de forma geral. Restaurar alguns
princípios espirituais naturais e responsáveis pela eficácia humana é
fundamental, assim como interiorizar muitos outros. Estes serão responsáveis por
uma nova consciência que será consultada no momento de nossas decisões. Da
mesma maneira, intervenções cognitivas no sentido de reestruturar aqueles pensamentos
e comportamentais no sentido de ter estratégias para situações específicas
podem dar muitos resultados.
Todavia, este
trabalho deve ser constante. Tem que se tornar um hábito. Costumamos lembrar
que nossa personalidade e padrões de comportamento levam muitos anos até sua
formação. Mudá-los, da mesma maneira, exigirá muita dedicação, determinação e
disciplina.
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