Nossa discussão de hoje é sobre a importância do
inventário diário, auto-avaliação ou simplesmente diário.
Durante nossa ativa, podemos considerar que a
possibilidade e/ou importância de auto-avaliação eram remotas ou mínimas. Em
razão de uma vida completamente desequilibrada e, principalmente, controlada
pelas drogas, conseguir um período por menor que fosse para se dedicar a este
tipo de exercício pessoal era praticamente impossível.
Por outro lado, faltava sentido neste tipo de
exercício diário. Discutimos em alguns textos como o determinismo cria em
dependentes químicos um tipo de personalidade que acredita que não temos
escolhas, que nossas características já estão determinadas e são imutáveis. A
partir deste tipo de pensamento, podemos até reconhecer nossa impotência em
relação ao álcool e outras drogas, mas não há nada que possamos fazer. Neste
sentido, qualquer exercício de autoconhecimento é uma grande ameaça na medida
em que pode revelar que somos muito piores do que imaginávamos.
Mesmo em recuperação, o dinamismo e velocidade de
nossas vidas tornam este exercício muito difícil. São diversas as
responsabilidades e papéis que temos como, por exemplo, trabalho, família,
estudo, amigos, projetos sociais, entre outros. A sobrecarga de informações que
recebemos a todo o momento e com a qual temos que lidar também é considerável.
Por outro lado, algumas tarefas ou atividades cotidianas fazem parte de
processos automáticos ou inconscientes como, por exemplo, o ato de comer. Dificilmente
prestamos atenção como comemos. Por último, durante nossos dias, geralmente
temos dificuldade para usar nossa autoconsciência, ou seja, pensar sobre nossos
pensamentos, sentimentos e comportamentos. Por tudo isto, sem um estado mental
adequado fica complicado nos perceber e compreender mais amplamente aquilo que
está acontecendo em nossas vidas.
Em algumas situações, motivados por boas intenções,
podemos ter dificuldades para reconhecer erros, idéias de outras pessoas ou
mesmo eventuais prejuízos que estamos causando a estas pessoas. Por exemplo,
quando ficamos responsáveis por reunir as muitas idéias do grupo e finalizar o
trabalho de escola ou quando tomamos uma decisão unilateral em nosso trabalho.
Assim como, podemos cobrar alguns desvios de
comportamento como arrogância, desonestidade, procrastinação, entre outros,
quando na verdade são atitudes que minutos depois estaremos tendo.
Em outras, seremos exageradamente críticos com
outras pessoas motivados por modelos de perfeição e expectativas elevadas que
criamos para nós mesmos, sendo, na maioria das vezes, intolerantes e ficando
ressentidos.
Por último, podemos subdividir o ser humano de
acordo com Covey (2010) em 4 dimensões que se interrelacionam entre si: físico,
mental, social/emocional e espiritual. A qualidade de vida depende da
manutenção equilibrada destas 4 dimensões. Por exemplo, será insuficiente nossa
dedicação em atividades físicas com o objetivo de um corpo definido ou forte se
não procurarmos ler ou o desenvolvimento de nossa espiritualidade que está
fortemente relacionada com as outras três dimensões.
De forma geral, regularmente podemos retomar
atitudes negativas e retornar ao padrão de comportamento de nossa ativa, mas a
intensidade de nossos dias podem não permitir que percebamos isto.
Neste sentido, o diário aparece como uma ferramenta
poderosa. Entretanto, ele só será eficaz se transformado em hábito e, portanto,
praticado regularmente.
Algumas restrições podem dificultar o exercício da
auto-avaliação como o 4º passo ou a revisão de outros de Narcóticos Anônimos
(NA), assim como hipotéticas idéias de que fazê-lo pode ser muito difícil porque
é algo novo. Na verdade, é muito fácil.
Só precisamos dedicar um pequeno tempo de nossos
dias, sugerimos que seja à noite, para refletirmos sobre o dia que passou.
Precisamos de um estado mental adequado e menos agitado que pode ser alcançado
com a prática da oração e meditação antes do exercício. Para aqueles que têm dificuldades
para escrever sobre seus dias, o folheto “Viver o Programa” de Na ou as
perguntas do 10º passo podem servir de orientação.
O inventário funciona, também, como uma válvula de
escape para nossas pressões, assim como a partilha. Através daquele, utilizamos
nossa autoconsciência, nos conhecemos melhor, descobrimos aquilo que tem nos
motivado, reconhecemos nossos erros e as conseqüências destes, acompanhamos a
evolução de nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos, percebemos
indicadores de lapso e recaída e analisamos em que medida aquilo que temos
feito está relacionado com nossas metas e objetivos definindo, assim, o que
precisamos manter e o que descartar, ente outras coisas.
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