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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Mensagem do Dia - Livrar a Cara ou Salvar a Pele


A discussão de hoje é sobre nossa insistência insana e improdutiva em tentar esconder nossos defeitos.

Segundo a Ética da Personalidade, em oposição à Ética do Caráter, o sucesso e felicidade dependem muito mais de técnicas de relações humanas e sociais do que qualquer reforma íntima. É o mesmo que dizer que nossa imagem é o mais importante. Sendo assim, devemos explorar nossas qualidades e maquiar nossos defeitos.

Por outro lado, é comum por parte de dependentes químicos, principalmente na ativa, o medo de inferioridade e rejeição. Influenciados por suas experiências, motivações e sentimentos temem que se as pessoas descobrissem a verdade sobre eles, mesmo em relação ao passado, provavelmente se afastariam. Este tipo de preocupação é fortemente responsável pelo isolamento.

Por trás de tudo isto podemos destacar que há o que aprendemos como código mental fixo ou permanente. Por considerar que seu caráter está determinado e, assim, é imutável, a exposição de seus defeitos equivale à confissão de seus fracassos porque não conseguiria se livrar deles. Entretanto, para alguém com este tipo de código mental, não se discute esta possibilidade tendo em vista que precisa de afirmações cotidianas de que aquilo que ele é o faz melhor que as outras pessoas.

Por conseqüência, o dependente tende a utilizar-se de máscaras criando assim uma personalidade que tem por objetivo tanto agradar as pessoas como, principalmente, protegê-lo.

Quando conhecemos as experiências de outros companheiros, descobrimos por que estes defeitos têm poder sobre nós enquanto tentamos mantê-los escondidos de todos.

Lutar contra estes defeitos fazem parte do processo de negação. Se lembrarmos quando tentávamos de várias maneiras controlar nosso uso de álcool e outras drogas e não conseguíamos, isto nos deixava péssimos e alimentava bastante nossa adicção. Da mesma maneira, quando tentamos provar a nós mesmos que não temos algum defeito, as situações nos provam do contrário e nos colocam na mesma situação constrangedora e destrutiva.

Gostamos de lembrar o exemplo citado pelo psiquiatra Viktor Frankl em seu livro “Em busca de sentido” quando explica a técnica criada por ele denominada logoterapia ou intenção paradoxal. “Caso semelhante foi me contado por um colega (...). Fora o mais grave caso de gagueira que ele tinha visto em muitos anos de profissão. De acordo com sua memória, nunca em sua vida o gago estivera livre de seu problema de fala, com uma única exceção. Esta ocorreu quando ele tinha doze anos, ao andar de bonde sem pagar passagem. Ao ser pego pelo cobrador, pensou que a única maneira de se safar seria conquistar a compaixão dele e tratou de demonstrar que era um pobre menino gago. Mas no momento em que tentou gaguejar, foi incapaz de fazê-lo.”

Sempre utilizamos este trecho quando falamos do processo de negação porque exemplifica claramente os resultados positivos da admissão e aceitação. Precisamos aceitar nossos defeitos.

Em segundo lugar, fica muito claro como lutar contra os defeitos pode nos transformar em uma grande panela de pressão a explodir a qualquer momento.

Por último, a humildade necessária para o reconhecimento de nossos defeitos é condição fundamental para a nossa mudança. Duas questões são fundamentais neste processo de recuperação: começar a desenvolver um novo código mental construtivo no sentido de reconhecer a possibilidade de transformação pessoal e expor nossos defeitos. Se os defeitos eram a razão de nossa vergonha, esta só poderá desaparecer se cumpridas estas duas exigências, porque só assim poderemos ser ajudados.

É natural que não nos sintamos a vontade para expor estes defeitos para todas as pessoas. Mas precisamos fazê-lo a algum companheiro ou profissional de confiança. Dor partilhada é dor diminuída.

Por fim, descobriremos que é impossível para além do curto prazo mantermos máscaras porque nossa imagem tende a refletir nosso caráter. Podemos imaginar que necessitamos livrar nossa cara nos escondendo, mas quando expomos nossos defeitos a alguém de confiança, esta pessoa nos aceita, não nos aponta, nos entende e nos ajuda a melhorar. Descobrimos, então, que ao fazê-lo, na verdade, estamos salvando nossa pele. Segundo a literatura de Narcóticos Anônimos (NA), “estes defeitos crescem no escuro e morrem à luz da exposição”.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Mensagem do Dia - Abstinência e Reestruturação


Nossa reflexão de hoje é sobre a abstinência como condição para a recuperação, assim como o papel desta na transformação do dependente.

Mesmo na ativa, ou seja, fazendo uso de substâncias psicoativas (PSA) ou drogas recreativas que alteram a mente, acreditamos que se o dependente químico fosse questionado sobre as motivações que o levam a usar, com exceção de casos extremos de obsessão e compulsão, provavelmente a maioria saberia responder: influência, status, para se sentir parte de grupos, prazer, sensação de superioridade, anestesiar sentimentos, obsessão, compulsão, entre muitos outros.

Por outro lado, pensamos que o reconhecimento dos perigos parece um pouco mais difícil ou então mesmo reconhecendo-os perdeu a possibilidade de escolher ou não acredita que algo ruim pode acontecer com ele.

Em recuperação, provavelmente todos chegamos à conclusão de que estávamos seguindo o caminho da morte e autodestruição. Conforme sugere a literatura de Narcóticos Anônimos (NA), comprávamos nossa destruição às prestações.

Entretanto, não se tratava apenas de um processo que se desenvolvia e naturalmente conduziria à morte. Os riscos que envolviam o uso, as pessoas com as quais nos relacionávamos, os ambientes sociais que freqüentávamos, as situações de perigo em que nos envolvíamos eram ameaças muito presentes em relação à morte que poderia acontecer a qualquer momento.

Com o desenvolvimento de nossa recuperação, descobrimos que mesmo sem drogas não tínhamos aprendido a viver, ou seja, nossa personalidade adictiva se estendia a quase todas as áreas de nossas vidas. De forma geral, nossos pensamentos e convicções são automáticos negativos, destrutivos, exigentes e egoístas, não temos habilidade para lidar com as emoções e nossos comportamentos, por conseqüência, são inadequados.

Por isso, a primeira condição para a mudança é a abstinência. Sem ela conseguiremos fazer muito pouco em favor da nossa recuperação, principalmente considerando quão condicionadas podem estar nossas ações. Provavelmente passaremos ainda por muitas situações que nos levaram a usar, entretanto é preciso que assumamos nosso compromisso com a recuperação. Neste caso, é fundamental lembrar-se de onde viemos e daquilo que fazia parte de nossa ativa, principalmente do ponto de vista espiritual, assim como onde poderemos terminar.

A abstinência é uma condição necessária, mas não é suficiente. Considerando nossa personalidade, precisamos de uma revisão detalhada do nosso conjunto de valores e, principalmente, uma reforma íntima completa de forma geral. Restaurar alguns princípios espirituais naturais e responsáveis pela eficácia humana é fundamental, assim como interiorizar muitos outros. Estes serão responsáveis por uma nova consciência que será consultada no momento de nossas decisões. Da mesma maneira, intervenções cognitivas no sentido de reestruturar aqueles pensamentos e comportamentais no sentido de ter estratégias para situações específicas podem dar muitos resultados.

Todavia, este trabalho deve ser constante. Tem que se tornar um hábito. Costumamos lembrar que nossa personalidade e padrões de comportamento levam muitos anos até sua formação. Mudá-los, da mesma maneira, exigirá muita dedicação, determinação e disciplina.

domingo, 26 de agosto de 2012

Mensagem do Dia - Importância da Auto-avaliação ou Diário


Nossa discussão de hoje é sobre a importância do inventário diário, auto-avaliação ou simplesmente diário.

Durante nossa ativa, podemos considerar que a possibilidade e/ou importância de auto-avaliação eram remotas ou mínimas. Em razão de uma vida completamente desequilibrada e, principalmente, controlada pelas drogas, conseguir um período por menor que fosse para se dedicar a este tipo de exercício pessoal era praticamente impossível.

Por outro lado, faltava sentido neste tipo de exercício diário. Discutimos em alguns textos como o determinismo cria em dependentes químicos um tipo de personalidade que acredita que não temos escolhas, que nossas características já estão determinadas e são imutáveis. A partir deste tipo de pensamento, podemos até reconhecer nossa impotência em relação ao álcool e outras drogas, mas não há nada que possamos fazer. Neste sentido, qualquer exercício de autoconhecimento é uma grande ameaça na medida em que pode revelar que somos muito piores do que imaginávamos.

Mesmo em recuperação, o dinamismo e velocidade de nossas vidas tornam este exercício muito difícil. São diversas as responsabilidades e papéis que temos como, por exemplo, trabalho, família, estudo, amigos, projetos sociais, entre outros. A sobrecarga de informações que recebemos a todo o momento e com a qual temos que lidar também é considerável. Por outro lado, algumas tarefas ou atividades cotidianas fazem parte de processos automáticos ou inconscientes como, por exemplo, o ato de comer. Dificilmente prestamos atenção como comemos. Por último, durante nossos dias, geralmente temos dificuldade para usar nossa autoconsciência, ou seja, pensar sobre nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos. Por tudo isto, sem um estado mental adequado fica complicado nos perceber e compreender mais amplamente aquilo que está acontecendo em nossas vidas.

Em algumas situações, motivados por boas intenções, podemos ter dificuldades para reconhecer erros, idéias de outras pessoas ou mesmo eventuais prejuízos que estamos causando a estas pessoas. Por exemplo, quando ficamos responsáveis por reunir as muitas idéias do grupo e finalizar o trabalho de escola ou quando tomamos uma decisão unilateral em nosso trabalho.

Assim como, podemos cobrar alguns desvios de comportamento como arrogância, desonestidade, procrastinação, entre outros, quando na verdade são atitudes que minutos depois estaremos tendo.

Em outras, seremos exageradamente críticos com outras pessoas motivados por modelos de perfeição e expectativas elevadas que criamos para nós mesmos, sendo, na maioria das vezes, intolerantes e ficando ressentidos.

Por último, podemos subdividir o ser humano de acordo com Covey (2010) em 4 dimensões que se interrelacionam entre si: físico, mental, social/emocional e espiritual. A qualidade de vida depende da manutenção equilibrada destas 4 dimensões. Por exemplo, será insuficiente nossa dedicação em atividades físicas com o objetivo de um corpo definido ou forte se não procurarmos ler ou o desenvolvimento de nossa espiritualidade que está fortemente relacionada com as outras três dimensões.

De forma geral, regularmente podemos retomar atitudes negativas e retornar ao padrão de comportamento de nossa ativa, mas a intensidade de nossos dias podem não permitir que percebamos isto.

Neste sentido, o diário aparece como uma ferramenta poderosa. Entretanto, ele só será eficaz se transformado em hábito e, portanto, praticado regularmente.

Algumas restrições podem dificultar o exercício da auto-avaliação como o 4º passo ou a revisão de outros de Narcóticos Anônimos (NA), assim como hipotéticas idéias de que fazê-lo pode ser muito difícil porque é algo novo. Na verdade, é muito fácil.

Só precisamos dedicar um pequeno tempo de nossos dias, sugerimos que seja à noite, para refletirmos sobre o dia que passou. Precisamos de um estado mental adequado e menos agitado que pode ser alcançado com a prática da oração e meditação antes do exercício. Para aqueles que têm dificuldades para escrever sobre seus dias, o folheto “Viver o Programa” de Na ou as perguntas do 10º passo podem servir de orientação.

O inventário funciona, também, como uma válvula de escape para nossas pressões, assim como a partilha. Através daquele, utilizamos nossa autoconsciência, nos conhecemos melhor, descobrimos aquilo que tem nos motivado, reconhecemos nossos erros e as conseqüências destes, acompanhamos a evolução de nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos, percebemos indicadores de lapso e recaída e analisamos em que medida aquilo que temos feito está relacionado com nossas metas e objetivos definindo, assim, o que precisamos manter e o que descartar, ente outras coisas.

Por fim, gostamos de lembrar que a recuperação de todo dependente químico é feita de atitudes positivas. Podemos classificar o inventário diário entre as mais importantes. Entretanto, não se trata tão simplesmente de uma atitude ou prática, mas de um hábito que se assimilado pode nos transformar radicalmente, assim como nossas vidas.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Mensagem do Dia - Liberdade de Escolha


A discussão de hoje é sobre nossa liberdade de escolha.

Segundo a literatura de Narcóticos Anônimos (NA), “Antes de ficarmos limpos, a maior parte de nossas ações eram guiadas por impulsos” (p. 98. Texto Básico)

A ideia de impulso é resultado, em grande medida, da experiência com cachorros de Pavlov e sua teoria de que estamos condicionados a reagir de determinada maneira a um estímulo ou impulso específico, assim como está, principalmente, associada à Psicologia Comportamental ou Behaviorista.

Impulso pode ser definido como um estímulo que possui força suficiente para nos levar a fazer determinada ação. Eles podem ser básicos ou primários e adquiridos ou secundários. Nosso passado nos leva a acreditar que, durante nossa ativa, muitas, senão a totalidade de nossas atitudes era determinada por impulsos.

Há um princípio que lembra que todas as coisas são criadas duas vezes, podemos chamá-lo de princípio da dupla criação. Segundo ele, a primeira criação é uma criação mental e a segunda, uma criação física. Podemos compará-lo à construção de uma casa. Primeiro, imaginamos o tipo de residência que queremos, depois transformamos nossa ideia em uma planta, planejamos a construção e só então damos início. Não idealizar nossa casa, por exemplo, pode ser muito arriscado, principalmente do ponto de vista financeiro, porque provavelmente serão muitas as modificações que decidiremos fazer.

De forma geral, em nossas vidas, não se preocupar com a primeira criação ou o planejamento implica, necessariamente, entregar a outras pessoas, circunstâncias, condições, entre outros, a possibilidade de determinarem nossos comportamentos. Durante nossa ativa, era o que acontecia, principalmente em relação às drogas. E as conseqüências deste tipo de omissão são geral e notadamente desastrosas.

Eram muito grandes nossas dificuldades para tomar decisões não somente em razão de obsessões e compulsões, mas também porque assim estaríamos assumindo responsabilidades e, por conseqüências, eventuais irresponsabilidades. Isto nos assustava. Por outro lado, o determinismo, os ressentimentos, entre outros fatores negativos, tinham peso muito expressivo em nossos comportamentos.

Em recuperação, começamos a descobrir que entre qualquer estímulo e resposta há sempre um espaço chamado liberdade de escolha. Ele pode ser relativamente pequeno, mas sempre existirá. Usamos nossa autoconsciência, ou seja, pensamos sobre os nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos, submetemos nossas vontades à consciência do que é certo ou errado, podemos isolar quaisquer influências e decidir com independência, assim como imaginar possíveis escolhas e, principalmente, suas conseqüências. Embora não possamos controlar os resultados de nossas ações, podemos prevê-los e assim fazer escolhas mais prudentes e responsáveis.

Percebemos que independentemente das influências que sofremos em nossas vidas, nosso futuro depende de nossas escolhas, da iniciativa e responsabilidade em relação a elas, o que podemos chamar de proatividade. Segundo a literatura de NA, não somos culpados por nossa doença, mas somos responsáveis por nossa recuperação.

Notadamente, uma nova consciência é indispensável para boas escolhas. Podemos consegui-la restaurando alguns princípios espirituais básicos da eficácia humana, assim como interiorizando outros. O programa de 12 passos com o despertar espiritual progressivo resultante dele é uma ferramenta poderosa para tanto. Neste sentido, a orientação de um profissional ou padrinho também pode ajudar muito.

Entretanto, toda decisão final é pessoal. Segundo o livro Minutos de Sabedoria, “Os conselhos ajudam. Mas não se esqueça de que a solução de nossos problemas está dentro de nós mesmos, na voz silenciosa de nossa consciência, que é a voz de Deus dentro de nós. Não se deixe enganar: só você será o responsável pelo caminho que escolher”.

Por fim, depois que conhecemos a liberdade de escolha torna-se inconcebível qualquer pensamento no sentido de viver sem poder escolher, abrindo mão de ser livres.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Mensagem do Dia - Como encarar a morte de quem amamos?


Nossa reflexão de hoje é sobre como podemos encarar a morte de alguém próximo de uma perspectiva mais positiva ou menos negativa.

Se para todo indivíduo não-dependente é relativamente difícil lidar com o falecimento de alguém que ama, para nós é muito mais complicado.

Discutimos em outros textos nossas inabilidades para lidar com frustrações, ou seja, com expectativas não atendidas. Mesmo que pareça uma estultícia, inconscientemente acreditamos que aquela pessoa sempre estará ao nosso lado. Se não pensamos em sua imortalidade, certamente temos em mente que morreremos primeiro.

Também aprendemos que o dependente químico, de forma geral, oscila entre a independência física, intelectual e financeira na medida em que pensa que não precisa dos outros e a dependência emocional considerando que o senso de valor e segurança depende da opinião alheia.

Perder alguém que vivíamos em função e era nossa referência é muito difícil. A ausência desta pessoa e, por conseqüência, desta orientação e apoio incondicional pode instalar o medo de não conseguir viver sem ela, porque dificilmente alguém irá sustentar a visão que criamos de nós mesmos.

O sentimento de perda será muito grande, não somente pela ausência de sustentação, mas também porque, em alguns casos, amávamos aquela pessoa. Entretanto, é um momento propício para aprendermos a lidar com esta emoção e assim crescer, ao invés de anestesiá-la com substâncias psicoativas (SPA), além de olharmos o mundo com outra perspectiva.

Steve Jobs levava uma filosofia muito parecida com o “Só Por Hoje”. Ele acertadamente pensava que se levasse seu dia como se fosse o último, um dia certamente estaria certo e inevitavelmente perguntava a si mesmo todas as manhãs se estaria fazendo o que planejara se de fato fosse o último dia de sua vida, ou seja, se estaria fazendo aquilo que era mais importante para ele.

Hoje assistimos à palestra de um médico sobre o mesmo tema e melhorando um pouco a ideia ele explicou que considerar aquele momento como único é muito mais eficaz do que pensá-lo como último. Ele citou como exemplos pacientes de câncer em fase terminal. Mesmo não havendo outra oportunidade em ambos os casos, o momento único é aquele que marca nossas vidas e muitas vezes a definem.

Segundo Covey (2010), um exercício muito eficaz para identificar aquilo que é realmente importante para nós é imaginarmos que estaríamos participando de nosso próprio velório. Alguém representando nossa família, outro os amigos, os colegas de trabalho, entre outros, todos falariam sobre nossa história de vida e tentariam nos definir. Como gostaríamos de ser lembrados?

Neste sentido, a perda de alguém querido pode nos estimular a pensar a respeito do sentido da vida, quais nossas prioridades e, principalmente, aquilo que realmente importa para nós.

Determinantes da Recaída - Parte 1


No texto de hoje daremos continuidade à série de discussões sobre a Prevenção de Recaída (PR) ou Plano de Prevenção de Recaída (PPR).

Algumas variáveis são determinantes para a ocorrência ou não do lapso, assim como do processo de recaída completa. Elas são classificadas entre intrapessoais e interpessoais. As intrapessoais incluem fatores ambientais, mas são assim genericamente chamadas porque estão relacionadas, de forma geral, à subjetividade, à pessoalidade, àquilo que é interior ou intrínseco de cada paciente. São elas: auto-eficácia, expectativas de resultado, motivação, enfrentamento, estados emocionais e fissura. Por outro lado, as interpessoais se referem aos relacionamentos de forma geral e são denominadas de apoio social.

Nesta primeira parte sobre estes determinantes, concentraremos nossa discussão na auto-eficácia, expectativas de resultado e motivação.

A auto-eficácia pode ser definida como o grau de confiança do paciente em sua própria habilidade de realizar determinado comportamento em um contexto específico, ou seja, a confiança que, para dadas situações consideradas de alto risco, o paciente reconhece e consegue aplicar estratégias de enfrentamento eficazes.

Por exemplo, ao perceber um bar na calçada onde está andando muda de lado porque aquilo tem apresentado resultados. Quando amigos que consomem bebidas alcoólicas o convidam para sair, não aceita o convite tendo em vista que poderá não resistir caso saia com os amigos. Ao sentir-se sozinho ou com outras emoções negativas procura um amigo ou profissional para conversar sobre porque, em outras situações, isto o manteve em recuperação. Naturalmente, com o tempo e a experiência de muitas estratégias, a auto-eficácia tende a aumentar. Quanto mais autoconfiante por o paciente, menores são as chances de uso.

As expectativas de resultados significam os efeitos que o paciente espera obter com o consumo de álcool e outras drogas. Estes efeitos são classificados entre positivos e negativos. Prazer, euforia, relaxamento, sociabilidade, ilusão, expansão do raciocínio, status, poder, segurança, entre outros, são considerados positivos. Depressão, ressaca, fobias ou medos, risco de morte, perda de emprego, morar na rua, entre outros, são considerados negativos.

Naturalmente as experiências anteriores tendem a influenciar a decisão de consumir drogas, cabendo destacar, também, que nem sempre os efeitos esperados correspondem necessariamente aos reais. O paciente que esperar prazer e euforia em relação ao uso tem muito mais chances de usar do que aquele que espera o estado depressivo, morrer por overdose, perder seu emprego ou ser expulso de casa pela família.

Por último, a motivação é um “estímulo consciente ou inconsciente para a ação rumo a um objetivo desejado, proporcionado por fatores psicológicos ou sociais; o que dá propósito ou direção ao comportamento”. Ela é considerada bidirecional porque se dá em duas direções, ou seja, tanto para a mudança positiva de comportamento como para o envolvimento com comportamentos-problema. Por isso é chamada de motivação para a mudança ou motivação para o uso.

O modelo de prontidão para a mudança (Prochaska e DiClemente. 1984) é dividido em cinco fases ou níveis; pré-contemplação, contemplação, preparação, ação e manutenção. Na Pré-contemplação, o paciente não está consciente do problema e não possui a intenção de mudar. Na Contemplação, o paciente está consciente do problema, mas ainda não tem a intenção de mudar. Na Preparação, o paciente tem a intenção de mudar. Na Ação, o paciente concretiza a mudança e na Manutenção, já aconteceu a mudança e o paciente está procurando manter o comportamento modificado. O estado desejado para a aplicação da Prevenção de Recaída é, no mínimo, a Preparação, pois nesta fase o dependente está consciência de sua doença e tem a intenção de mudança.

Notadamente, a motivação está relacionada tanto com a auto-eficácia quanto com as expectativas de resultado. Por exemplo, o paciente acreditar que não vai conseguir dizer não, que seu desempenho sem drogas será ruim ou que seus amigos usam e para fazer parte do grupo deve usar pode motivá-lo a usar. Ao contrário, se acreditar que usar pode deixá-lo muito mal, lembrar que está conseguindo enfrentar suas dificuldades e/ou problemas sem drogas, que está se autoconhecendo, pode concorrer para a manutenção da abstinência.

Na próxima parte, falaremos sobre as outras variáveis ou determinantes.

domingo, 19 de agosto de 2012

Conheça um pouco mais sobre Narcóticos Anônimos (NA)


Mensagem do Dia - Simplicidade e Prioridade


Nossa reflexão de hoje é sobre a necessidade de prioridades e simplicidade em nossas vidas.

Já discutimos em outros textos como o relacionamento com álcool e outras drogas podem desenvolver no dependente químico muitas inabilidades e uma ideia muito vaga de vida de forma geral. Enquanto a maioria das pessoas passava pelo processo natural de desenvolvimento, assumiam responsabilidades, enfrentavam, aprendiam e cresciam com os desafios, entre outros, o dependente químico refugiava-se em substâncias psicoativas (SPA).

Por conseqüência, adquirimos o hábito de superdimensionar as dificuldades, quando elas existiam, e transformá-las em problemas. Em recuperação, muito se ouve sobre as diferenças entre dificuldade e problema. Procuramos pesquisar e refletir um pouco a respeito de quais seriam. A dificuldade pode ser entendida como obstáculo, embaraço, apuro, contratempo, dúvida. É aquilo que é ou pode tornar algo difícil. No entanto, seria mais fácil contorná-la e as conseqüências, geralmente, não são tão graves. Por outro lado, o problema pode ser algo mais difícil de lidar e/ou resolver, principalmente porque, geralmente, compreende um conjunto de dificuldades. Exige uma solução mais elaborada e suas conseqüências, de forma geral, são mais drásticas. Segundo a filosofia, é algo que perturba a paz e/ou harmonia de alguém que possui algum.

As conseqüências pelas quais este tipo de personalidade é responsável também estão muito associadas à obsessão, ou seja, pensamentos fixos em alguém ou alguma coisa sobre os quais temos nenhum controle. Sempre, em nossas vidas, dizemos sim e não tanto para tarefas e outros como também para pensamentos, do ponto de vista cognitivo. Na medida em que nos concentramos e não reestruturamos pensamentos como estes, eles são alimentados e nos levam quase que à paralisação porque não conseguimos prestar atenção em quase mais nada.

Por exemplo, o agendamento inesperado de uma avaliação na escola ou faculdade, ao invés de nos estimular, por exemplo, a revisar o conteúdo estudado desde a última avaliação, pode nos paralisar com a ideia e o medo de que iremos mal, principalmente se já passamos por alguma experiência dramática parecida.

Quando entramos em recuperação, podemos nos assustar com a observação da necessidade de mudança radical em nossas vidas em razão da orientação que elas adquiriram em nossa ativa. A filosofia do “Só Por Hoje” lembra que nossas vidas ficam mais fáceis e mais produtivas quando vivemos um dia de cada vez. No entanto, ainda assim, um dia pode ser muito. Neste caso, é sugerido que vivamos um momento de cada vez.

Mesmo de momento em momento, é provável que tenhamos algumas dificuldades e/ou problemas para contornar ou resolver. Por isso, é extremamente importante a definição daquilo que é prioritário, ou seja, fazer por primeiro as coisas mais importantes. Segundo Goethe, “as coisas mais importantes nunca devem ficar à mercê das menos importantes”.  

Por outro lado, a necessidade de priorização aponta para outra: a de planejamento. Não conseguimos reconhecer aquilo que é prioridade sem antes identificar e definir aquilo que é importante. Precisamos de alguma referência. Viver um dia de cada vez ou de momento em momento não pode ser confundido com um tipo de vida em que vivemos sentados em um banquinho esperando algum fogo ao nosso redor para apagarmos. Assim, nossas vidas não fazem qualquer sentido. Sonhos, objetivos, metas são necessários.

Assim como, precisamos assumir a disposição da boa vontade no sentido de fazer algo mesmo que não seja nossa vontade ou desejo. Segundo Gray em seu livro “O denominador comum do sucesso”, “as pessoas bem-sucedidas têm o hábito de fazer coisas que os que falharam não gostam. Elas não gostam de fazê-las, tampouco. Mas sua contrariedade se subordina à força de seus propósitos”.

Por fim, simplicidade não significa fazer as coisas mais fáceis. Por exemplo, o economista comportamental Daniel Pink, em seu livro Motivação 3.0, descobriu que uma fonte de frustração no ambiente de trabalho é o desencontro freqüente entre o que se precisa fazer e o que se pode fazer. Quando o que é preciso fazer está além de nossa capacidade, o resultado é a ansiedade. Quando o que é preciso fazer está aquém de nossa capacidade, o resultado é o tédio. Como resposta, ele criou o conceito de “tarefas cachinhos dourados” para desafios nem muito interessantes, nem muito chatos, nem especialmente difíceis nem especialmente fáceis. É um conceito muito interessante que podemos utilizar em nossa recuperação.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Mensagem do Dia - O carrinho da espiritualidade


Nossa discussão de hoje é sobre os movimentos possíveis que a espiritualidade pode assumir em recuperação. São dois: para cima ou para baixo, para frente ou para trás, crescer ou diminuir, subir ou cair, progredir ou regredir. Podemos defini-los da maneira que acharmos melhor, mas são apenas dois.

O estado espiritual pode ser comparado a um carrinho de controle remoto em um tipo de rampa considerável ascendente em que podemos controlar sua aceleração. Para que o carrinho inicie e continue a subida, é preciso uma aceleração adequada. Se for insuficiente, é provável que ele desça a rampa, podendo inclusive virar e quebrar.

Podemos destacar, principalmente, dois comportamentos diretamente relacionados ao crescimento espiritual e à relativa ausência de espiritualidade. Respectivamente, são eles: a vigilância e a complacência.

A vigilância consiste na admissão diária de nossas impotências, aceitação da recuperação como condição para uma nova maneira de viver, observação dos princípios espirituais, freqüência às reuniões e/ou sessões com um profissional, auto-avaliação constante, manutenção mental, entre outros.

Segundo as experiências de muitos companheiros em recuperação, “os bons momentos também podem ser uma armadilha”. É natural que a partir da abstinência, a prática dos princípios da recuperação apresente como resultados e/ou incentive-nos a buscar, por exemplo, crescimento pessoal, qualificação profissional, reaproximação com a família, relacionamentos, novos amigos, outras atividades sociais e a necessidade de equilibrar estes papéis e tarefas diárias concorra para a definição de prioridades. Não podemos esquecer que a recuperação é o compromisso mais importante para nossas vidas porque sem ela nenhum dos benefícios indiretos e/ou sociais da recuperação será possível.

A complacência, por outro lado, pode ser entendida como o oposto. Ou seja, o retorno aos padrões negativos e destrutivos da ativa como, por exemplo, a independência na medida em que podemos acreditar que não precisamos mais da disciplina da recuperação, o orgulho na medida em que voltamos a acreditar que um simples pedido de ajuda em alguma dificuldade pode representar nosso fracasso, egoísmo, ingratidão, insatisfação, desconfiança, má vontade, competição, interesses mesquinhos, entre outros.

Segundo a Prevenção de Recaída (PR), alguns comportamentos servem como indicadores de atitudes negativas e de um possível processo de recaída. Na mesma linha, a literatura de Narcóticos Anônimos (NA) lembra que atitudes negativas são como fumaça indicando que há fogo. Neste momento, devemos lembrar-nos de nosso passado e, mesmo que por alguns, instantes, sentir como era estar em um estado de vazio espiritual e as conseqüências desta ausência de espiritualidade.

Por fim, a recuperação é um presente muito desejado de nosso Poder Superior. Caso pretendamos mantê-la, é necessário que cuidemos muito bem dela, procurando sempre o desenvolvimento espiritual.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Mensagem do Dia - A recuperação enguiçou


O tema de hoje é o sentimento negativo e geralmente equivocado de que nossa recuperação estacionou.

Durante a ativa, entre muitas outras, uma das características comuns a todos os dependentes químicos é a impaciência ou ausência de paciência motivada pelo imediatismo. A inobservância daquele princípio influenciou, em grande medida, nossos comportamentos e nossas vidas de forma geral.

Quando conseguíamos algum emprego, esperar por adquirir experiência, aprender as particularidades da organização, se qualificar, entre outros, era muito desconfortante levando-nos, muitas vezes, a procurar outro emprego motivados pela idéia de que não éramos reconhecidos.

Para agradar nosso ego, satisfazer nossa procura incessante por prazer e chamar a atenção das outras pessoas, procurávamos um relacionamento com alguém que, em razão de algum atributo como beleza, dinheiro, bens, entre outros, nos oferecesse um hipotético status social. Entretanto nossa impaciência se incomodava com a arte da conquista fazendo com que muitas vezes pagássemos por prazer e companhia.

De forma geral, os esforços eram pesadelos, lembrando também do papel que possuem em personalidades de código mental fixo ou permanente. Tínhamos uma grande dificuldade em aceitar o processo natural de crescimento e desenvolvimento característico da natureza, mas que se observa em todas as áreas de nossas vidas.

Quando decidimos entrar em recuperação, geralmente acreditamos que a simples abstinência de álcool e outras drogas tornariam nossas vidas perfeitas de acordo com modelos que sempre criamos. Primeiro: não existem vidas perfeitas. Segundo: há que se observar a lei do processo natural, assim como a da semeadura ou colheita.

Usamos drogas durante muito tempo. Muitas foram as conseqüências físicas desta relação como, por exemplo, disfunções orgânicas e fisiológicas, mentais, entre outras. Por exemplo, é natural que dependentes químicos desenvolvam transtornos de ansiedade como patologias psíquicas. Quando ficamos abstinentes, esperamos que desapareçam imediatamente sem quaisquer tratamentos psicológicos.

Da mesma maneira, esperamos ser pessoas mais qualificadas com novos conhecimentos, princípios, personalidade, idéias, entre outros, sem qualquer manutenção do ponto de vista mental, sem leituras, estudo, entre outros.

Pensamos que sem a prática dos passos e/ou alguma outra ferramenta eficaz poderemos desenvolver nossa espiritualidade, esquecendo que o despertar espiritual é progressivo e contínuo.

Muitas vezes em atitudes ainda negativas na medida em que continuamos procurando aprovação e estabelecendo como condição para nossa felicidade e sucesso variáveis exteriores, acreditamos que a sociedade nos acolherá simplesmente em razão da abstinência.

Assim como ficamos decepcionados com a continuidade de nossas inabilidades emocionais, nossos pensamentos destrutivos, comportamentos inadequados e com demora para conquistar bens materiais que desejamos.

Tudo isto pode nos dar a impressão que nossa recuperação não está progredindo, em alguns casos até regredindo. Entretanto, se olharmos com honestidade para nosso passado e utilizarmos, por exemplo, a poderosa ferramenta da lista de gratidões, perceberemos que a recuperação tem nos dado, aos poucos, muito mais do que esperávamos.

Muitas vezes este tipo de sentimento pode ser resultante da complacência, alguma influência pontual como um erro, um sentimento negativo, expectativa não atendida, entre outros, que, de acordo com a percepção seletiva, nos faz acreditar que a recuperação não avançou, assim como a rotina, se não receber a atenção necessária no sentido, por exemplo, da realização de atividades menos rotineiras, mais criativas e que nos dê alguma satisfação, pode ter, também, um peso muito grande sobre este tipo de sensação.

Não podemos esquecer que a formação de nossa personalidade adictiva é resultado de um processo que levou muitos. Dependendo de sua idade, foram mais alguns ou muitos anos reproduzindo este tipo de padrão. Não faz sentido acreditar que sem trabalho, esforço, dedicação e recuperação seremos pessoas diferentes.

Por fim, a literatura de Narcóticos Anônimos (NA) lembra que “crescimento não é resultado de um desejo, é resultado de ação(...)”. Precisamos tomar a iniciativa, assumir responsabilidades e colocar este programa em prática.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Mensagem do Dia - Autolimitações


Nossa reflexão de hoje é sobre as várias limitações que impusemos a nós mesmos durante nossa adicção ativa.

Aprendemos que a qualidade de nossas vidas e o sucesso depende muito da visão que temos de nós mesmos. Já discutimos aqui que dependentes químicos tendem a desenvolver uma personalidade baseada no determinismo em oposição à autodeterminação. Como conseqüência, vivíamos tentando das mais variadas formas provar a nós mesmos que as qualidades que tínhamos eram suficientes para nos destacar em relação aos outros.

Assim, os desafios e os esforços de aprendizado eram ameaças a nossa auto-imagem. Notadamente com o tempo, nossas características se revelaram insuficientes porque ninguém consegue manter uma máscara durante muito tempo e, principalmente, as outras pessoas participavam do processo natural de desenvolvimento. Tínhamos a sensação de fracasso e se nossas características não poderiam mudar de acordo com o código mental fixo, não havia nada que pudéssemos fazer. Perdemos a autoconfiança. Abrimos mão de nossas escolhas. Como pensávamos, de fato nossos comportamentos passaram a ser resultados de condicionamentos e circunstâncias da vida.

Com isso, qualquer auto-avaliação era muito difícil. Com honestidade, era impossível. Pensávamos que seria doloroso demais descobrir quem éramos realmente. Começamos a criar idéias exacerbadamente limitadas em relação a nossas potencialidades no trabalho, na escola, enfim, a tudo que podíamos pensar em fazer. Auto-obsessivos e desconfiados, nossos medos nos cerceavam, nos impediam de viver.

Em razão do medo da autodescoberta, das experiências com as pessoas que nos relacionávamos e da projeção destas na sociedade de forma geral, também desenvolvemos uma ideia negativa, cética e desconfiada dos outros.

Este conjunto de idéias egocêntricas, destrutivas, exigentes e ineficazes influenciou nossa qualidade de vida que era péssima.

Mudar estas idéias seria muito difícil. Mas segundo a literatura de Narcóticos Anônimos (NA), “mais do que qualquer outra coisa, uma atitude de indiferença ou intolerância com os princípios espirituais irá derrotar nossa recuperação”. Assim como honestidade e boa vontade, o princípio da mente aberta, ou seja, a disposição irrestrita ou incondicional para aceitar novas idéias, idéias diferentes, é um princípio básico. Sem ele, não entramos em recuperação e ao fazê-lo continuamos no caminho da autodestruição, em oposição à vida. Não estamos transbordantes de mente aberta, mas precisamos começar a mudar. Também segundo a literatura, “uma nova ideia não pode ser enxertada numa mente fechada”. Mas precisamos de novas idéias.

As experiências de companheiros em recuperação apontam que simplesmente a freqüência às reuniões, a identificação com outros adictos e alguma boa vontade de forma geral são capazes de começar a abrir nossas mentes para novas idéias e experiências. Segundo Freud, “nunca tenha certeza de nada porque a sabedoria começa com a dúvida” e Einstein, “a mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”.

Com esta atitude positiva, começamos a superar nossas limitações na medida em que percebemos que outras pessoas que passaram por dificuldades parecidas assim conseguiram. Começamos a entender o papel da proatividade em nossas vidas, a acreditar que mesmo sofrendo influências genéticas, psíquicas e ambientais, entre o estímulo e a resposta há um espaço que é a liberdade de escolha. Começamos a acreditar que se outras pessoas conseguiram mudar suas vidas e agir diferentemente, também podemos. Começamos a identificar nos desafios e erros a possibilidade de aprendizado e crescimento. E por fim, ficamos menos resistentes aos apontamentos e críticas, reconhecendo neles uma importante ferramenta de ajuda no sentido de nos auxiliar a descobrir algo que precisamos mudar que sozinhos não conseguimos.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Mensagem do Dia - Dificuldades nos Relacionamentos


Nosso tema de hoje é sobre as dificuldades que eventualmente encontramos em nossos relacionamentos cotidianos.

Durante nossa adicção ativa, tínhamos muito medo da rejeição. Em razão do nosso consumo de drogas, daquilo que a obsessão por drogas nos levou a fazer como, por exemplo, mentir, manipular, furtar, roubar, entre outros desvios de comportamento, pensávamos que se as pessoas nos conhecessem, imediatamente se afastariam.  Mesmo no caso de outros dependentes em recuperação, acreditávamos que nenhum deles fizera o que fizemos.

As experiências sociais que tínhamos, que geralmente se limitavam a usuários de drogas, traficantes, entre outros, bem como considerando as atitudes que costumávamos ter nos impediam de confiar nas outras pessoas.

Estes fatores nos levaram ao isolamento.

Com a abstinência e a recuperação, naturalmente começamos a nos reaproximar das pessoas. Em alguns relacionamentos como, por exemplo, no trabalho, no grupo, na escola, entre outros lugares, poderemos encontrar algumas dificuldades, alguns conflitos.

A primeira coisa que devemos fazer é um exercício de auto-avaliação, olhar para dentro de nós e procurar qual a parcela que temos em relação à qualidade do relacionamento.

Sabemos que mesmo em recuperação, é comum a criação de modelos perfeitos de nossa parte. Por exemplo, criamos modelos perfeitos de pais, mães, namorados, namoradas, amigos, de nós mesmos, inclusive de relacionamentos. Esses modelos incluem expectativas muito elevadas e irreais que geralmente são responsáveis por algumas de nossas frustrações e intolerâncias. Ressentimentos indicam a dificuldade para perdoar nós mesmos. Além de que pode acontecer que os comportamentos que mais estão nos incomodando nas outras pessoas sejam aqueles que não conseguimos nos livrar.

Feito isto, é fundamental a prática da empatia, que nos coloquemos no lugar dos outros. Nosso egocentrismo geralmente nos impede de preocupar-se com as outras pessoas. Temos a ideia de que os outros vivem em nossa função. Nós somos o centro e o restante, a periferia. Muitas vezes, a pessoa não está em um dia legal em virtude de forças que não possuem quaisquer relações conosco. Precisamos entender isto. Assim como, em outras situações, aceitar que como nós um dia, as pessoas estão trabalhando no sentido de remover seus defeitos.

A partir destas considerações, o que podemos fazer? A literatura de Narcóticos Anônimos (NA) lembra que não nos tornaremos pessoas melhores julgando os erros dos outros. Podemos orar pedindo ajuda ao Poder Superior e principalmente praticar o princípio do amor incondicional. Aplicando a regra de ouro, vamos tratar as pessoas como gostaríamos de ser tratados, independentemente que qualquer coisa. Procuraremos resolver os conflitos que surgirem e não usar um erro ou dificuldade para estereotipar alguém ou definir sua personalidade.

A partir do momento que decidirmos dispensar um tratamento mais amoroso aos outros, é este tipo de tratamento que receberemos. 

domingo, 12 de agosto de 2012

Sentimentos não são inimigos


Em razão de nossa inabilidade para lidar com sentimentos, é comum associarmos as emoções aos nossos adversários, obstáculos ou inimigos. Caso fosse possível, certamente muitas pessoas escolheriam não sentir.

Entretanto, uma corrente de médicos e psicólogos defende que algumas emoções que consideramos negativas como depressão, ansiedade, raiva, pessimismo, entre outras, são resultado de uma seleção natural, ou seja, elas continuam existindo porque oferecem vantagens aos seus portadores.

Eles comparam os sentimentos à mesma função que a dor tem em nossas vidas. Quando estamos na iminência de uma lesão durante alguma atividade física, nossos neurônios transmitem este estímulo para que paremos. Assim como a dor, as emoções nos fornecem informações que ajudarão a garantir nossa sobrevivência diante de riscos.

Por exemplo, a depressão, em oposição ao bom humor, serve para que voltemos atrás e pensemos melhor nossas opções em relação a algum objetivo. Ela abre espaço para a introspecção e autoexame necessários para tomar decisões difíceis, como desistir de objetivos inalcançáveis e buscar novas metas.

O mesmo acontece com outros sentimentos. São padrões de resposta diante de situações que podem trazer riscos ou oportunidades.

Por outro lado, o pesquisador Joseph Cardillo, em seu livro “Concentração: o segredo das pessoas produtivas”, escreveu sobre sua descoberta de que as emoções afetam nossa atenção inconscientemente porque nosso cérebro está preparado para salvar nossas vidas, respostas emocionais estão ligadas aos mecanismos primitivos de sobrevivência.

Sendo assim, nem sempre nossos sentimentos indicarão a melhor opção para a situação. Por exemplo, o medo imaginário ou irreal pode nos levar a comportamentos desesperados e desnecessários. É necessário submeter nossos pensamentos automáticos e esquemas de interpretação das informações exteriores à consciência.

Ele apresenta 4 estratégias para nos ajudar a descobrir o que as emoções querem nos dizer, quais suas causas e como tomar as melhores decisões. Cada estratégia consiste em um conjunto de perguntas que devemos responder:

Primeira Estratégia: Que emoção específica estou sentindo? Que informação “fria” estou recebendo? Há uma disjunção? Por quê? Sentir-me desta maneira afetou negativamente situações semelhantes no passado? Sentir-me desta maneira afetou positivamente situações semelhantes? Há coisas que faço melhor quando estou operando sob esta influência emocional? O quê? Há coisas que faço pior? Quais as minhas melhores opções para agir estando sob a influência do que estou sentindo? Escolha a melhor opção e vá em frente.

Segunda Estratégia (caso esteja em uma espiral depressiva): Como tais humores depressivos me afetaram em situações semelhantes no passado? Que coisas não estão fáceis? Diga a si mesmo que as coisas podem e irão mudar e não invista tanto em determinados assuntos. Que coisas se tornam mais fáceis por  meio destas alterações de humor? Escolha algo que faz bem sob a influência de alterações de humor e vá em frente.

Terceira Estratégia (quando emoções estiverem afetando pensamentos e ações): Que emoções positivas estou sentindo? Alguma destas emoções está afetando meus julgamentos? Qual delas? Como sentir-me desta maneira afetou situações semelhantes no passado? Como sentir-me desta maneira pode me afetar agora na medida em que persigo esta meta? Se o que estiver sentindo facilitar, vá em frente.

Quarta Estratégia (Empatia/Regra de Ouro): O que estou prestes a fazer? Visualize a ação/comportamento em sua mente. Qual é o alvo de minha ação em termos de pessoa, lugar ou coisa? Como esta ação/comportamento afetará tanto você quanto o alvo de sua ação? Você pode determinar isto fundindo o que está prestes a fazer, o alvo de sua ação e a si mesmo. Esta é uma boa coisa a fazer? Caso seja, faça-a. Caso contrário, não faça.

Mensagem do Dia - Despertar Primário


Hoje falaremos sobre o despertar espiritual e o primeiro passo de Narcóticos Anônimos (NA) em geral.

Antes do despertar espiritual, que logo explicaremos o significado e suas causas, do reconhecimento de que tínhamos problemas com drogas e da decisão de abandoná-las, algumas características eram comuns a todos nós.

Estávamos submersos em um processo denominado negação em que buscávamos provar para nós mesmos e para os outros que não éramos dependentes químicos. Racionalizamos no sentido de que conseguíamos ficar algum tempo sem usar drogas, que o modelo social de dependente estava muito distante de nós. Justificamos que nossos problemas eram exteriores e caso mudássemos de amigos, emprego, escola, universidade, cidade, deixássemos de morar com nossa família, entre outras coisas, nossas  vidas iriam melhorar. Tentamos somente beber e/ou usar drogas mais fracas, usar com pessoas diferentes, somente em algumas situações, ficar abstinente por um tempo para depois controlar, mas nada deu certo.

Por outro lado, em razão do nosso medo de rejeição, assim como da nossa insana preocupação em agradar os outros, criamos uma personalidade para apresentar às pessoas quando não estivéssemos isolados. Vestimos máscaras com medo de que as pessoas pudessem descobrir que usávamos drogas, o que fazíamos para consegui-las, que éramos fracassados porque nossos sonhos tinham a droga como limite, que éramos egoístas, entre outros, enfim, a verdade sobre nós e nossa doença.

Entretanto, chegamos em um momento que o descontrole e/ou sofrimento são tão grandes que não conseguimos mais disfarçar. Mesmo que alguns AINDA não tenham perdido bens materiais, amigos, família, emprego, vida social, entre outras coisas, encontraram o fundo de poço espiritual e emocional. É aqui que começamos a reconhecer nossa doença e pedir ajuda.

Descobrimos que não podemos controlar o consumo de quaisquer substâncias psicoativas (SPA), mesmo o álcool. Que ela nos afeta física (compulsão, descontrole, agir sem considerar as conseqüências), mental (obsessão/pensamentos fixos), espiritual (egocentrismo e vazio espiritual), social (isolamento) e emocionalmente (inabilidades). Que é progressiva (em razão da tolerância de nosso organismo que aumenta com o consumo), incurável (em razão de nossas memórias, principalmente aquela que experimenta uma carga sem precedentes de dopamina oferecendo prazer e euforia) e fatal caso não seja interrompida. Começamos a refletir como e quais áreas de nossas vidas foram afetadas.

Com a abstinência, descobrimos, também, que temos inabilidades mesmo sem drogas. Nossos pensamentos costumam seguir um padrão obsessivo com pensamentos automáticos, erros cognitivos, esquemas mal adaptativos, influenciando nossas emoções com as quais não conseguimos lidar e comportamentos que não conseguimos controlar. Somos transtornados.

Todavia, admitindo nossa impotência, não somente em relação às drogas, mas principalmente em relação a nós mesmos, como funcionamos, abrimos caminho para a mudança. Este é considerado o paradoxo do primeiro passo. Admitimos a derrota para vencer. Não precisamos mais entrar no ringue. Não precisamos mais lutar para provar que podemos controlar e/ou não somos adictos.

Este processo chama-se rendição. Ele inicia-se com a admissão da impotência e descontrole, passa pelo abandono de reservas ou restrições em relação ao programa de 12 passos e termina, tratando-se do passo um, com a aceitação de que a recuperação é a solução para uma nova maneira de viver.

O determinismo, tanto genético quanto psíquico e ambiental, pode nos levar a acreditar que não há nada que possamos fazer. Aquilo que está em nosso DNA, assim como as experiências que vivemos durante nossa formação já condicionaram nosso comportamento e, portanto, não temos outra escolha. Mas, na verdade, somos autodeterminados, nós decidimos o que fazer.

É certo que, em razão de nossas expressivas dificuldades, não conseguiremos sozinhos, mas é empiricamente possível com a ajuda da programação, de profissionais, da autodisciplina e determinação, entre outros.

O Primeiro Passo é o passo mais importante porque decidimos viver, assim como é um passo de muita ação. Segundo um ditado chinês, “uma jornada de mil quilômetros começa com o primeiro passo”. É preciso muita iniciativa para dá-lo. O despertar primário pode ser considerado um estimulante, incentivador, a condição fundamental. Mas é preciso ter atitude.

sábado, 11 de agosto de 2012

Mensagem do Dia - Ouvindo com Empatia


A nossa reflexão de hoje é sobre a importância de ouvirmos atentamente e com empatia.

Durante nossa adicção ativa, a impaciência para ouvir outras pessoas é, geralmente, uma característica muito comum.

Entretanto, a mesma inabilidade pode ser encontrada em pessoas que, mesmo sem usar drogas, desenvolveram uma personalidade parecida, assim como aqueles que não contam com uma espiritualidade bem desenvolvida.

O educador Rubem Alves, em um de seus textos com o título “Escutatória”, escreveu que sempre via cursos de oratória anunciados. Nunca viu anunciado um curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensou em oferecer um curso de escutatória, mas chegou à conclusão de que ninguém iria se matricular.

Nós nos comunicamos através de quatro formas, principalmente: lendo, escrevendo, falando e ouvindo. Durante muitos anos, aprendemos a ler, escrever e falar, entretanto, dedicamos muito pouco, senão nenhum, para aprender a ouvir.

Geralmente, quando as pessoas estão falando, costumamos interrompê-las. Esta atitude, mesmo que inconscientemente, envia algumas mensagens para o outro como, por exemplo, não estou prestando atenção naquilo que está me dizendo, já que a mente está ocupada com a elaboração do que irei falar, não estou valorizando sua opinião, assim como sua opinião não pode ser mais importante que a minha, entre outros.

Na verdade, este tipo de comportamento expressa nossa necessidade de ser compreendido antes de compreender.

Podemos subdividir nossa escuta em quatro níveis: quando ignoramos o que a outra pessoa está dizendo, fingindo, na maioria das vezes, que estamos ouvindo; quando escutamos seletivamente, ou seja, apenas determinadas partes da conversa; quando escutamos concentradamente, ou seja, prestamos atenção nas palavras que estão sendo ditas; e empaticamente, quando temos a intenção de compreender. A escuta empática faz com que nos coloquemos no lugar da outra pessoa. Vemos e compreendemos o mundo como ela, sentimos o mesmo que ela.

Em Narcóticos Anônimos (NA), aprendemos que as partilhas possuem um valor terapêutico muito expressivo porque além de funcionar como uma “válvula de escape”, aprendemos com as experiências dos outros e eles com as nossas. Mas para tanto, é fundamental ouvirmos empaticamente. Assim, deixar de ouvir, internamente, nossos pensamentos e opiniões.

Por outro lado, considerando a primeira função das partilhas, o campo da motivação humana descobriu que necessidades satisfeitas não motivam. Depois das necessidades físicas, as necessidades humanas são psicológicas como, por exemplo, ser compreendido, se afirmar, receber incentivo, ser amado, entre outros. Quando ouvimos empaticamente as pessoas, satisfazemos esta necessidade psicológica. Além de que quando as pessoas se sentem confiantes para se abrir, elas conseguem, durante este processo, encontrar as soluções por si mesmas. Segundo Covey (2010), é como se estivessem descascando uma cebola até chegar ao centro.

Segundo a literatura de NA, “a empatia pode alcançar e tocar o espírito de outro adicto sem falar uma simples palavra”. Então, só por hoje, vamos nos esforçar para ouvir mais atentamente praticando o princípio da empatia.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Mensagem do Dia - Contato Consciente com Deus


Nosso tema de hoje é sobre o contato consciente com o Poder Superior.

Durante nossa ativa, desenvolvemos uma dependência muito grande em relação às drogas e à adicção de forma geral, uma força negativa, destrutiva e muito maior que nós. Em razão da obsessão e compulsão por drogas, respectivamente do ponto de vista mental e físico e, por conseqüência, do egocentrismo e valores que desenvolvemos a partir dele como desonestidade, manipulação, mentiras, egoísmo, entre outros, chegamos a Narcóticos Anônimos (NA) com o que podemos chamar de completo “vazio espiritual”.

Em razão desta ausência de espiritualidade e fé, não conseguíamos confiar em qualquer Poder Superior, tínhamos medo do futuro, uma característica da auto-obsessão, principalmente porque nossas experiências passadas eram a expressão do fracasso. Nossos sonhos tinham um limite intransponível: as drogas.

Não era muito comum fazermos orações ou falar com Deus, exceto em situações de risco ou quando sentíamos muita dor. Por exemplo, na iminência de ser descoberto e preso pela polícia ou em um estado bastante depressivo pós-uso.

Durante o processo de negação, é comum acreditarmos que nossas necessidades são, por exemplo, financeiras, mudança de bairro ou cidade, outro emprego, amigos, distância da família, entre outras, porque assim justificamos. Todavia, não demora muito para descobrirmos que nossa verdadeira necessidade é de orientação espiritual.

Estávamos notadamente falidos do ponto de vista espiritual. Nossa vida fazia quase nenhum sentido.

Com a rendição que se iniciou no 1º passo, admitimos nossa impotência em relação às drogas e à adicção de forma geral – que nossos pensamentos eram automáticos e destrutivos, não conseguíamos lidar com nossos sentimentos e, por conseqüência, nossos comportamentos eram desastrosos  – , abandonamos as reservas e aceitamos a recuperação como solução para nossas vidas, assim como que agora precisamos assumir as responsabilidades por fazer diferente. Entretanto, continuamos impotentes. Mas o programa nos diz que um Poder maior do que nós e que a nossa doença pode devolver-nos à sanidade. Então começamos a questionar qual a vontade deste Poder em relação a nós.

A vontade deste Poder é uma vida baseada nos princípios espirituais. Cada passo possui um conjunto de princípios e é através daquele que desenvolvemos, progressivamente, o tão almejado despertar espiritual, uma nova consciência.

Este Poder Superior, aos poucos, vai libertando-nos da obsessão, da compulsão, dos defeitos ou desvios de comportamento na medida em que nos dá coragem para reconhecê-los e orientação para mudá-los. Não lutamos mais contra eles e, assim, não são mais alimentados.

Entretanto, esta orientação é conquistada com um relacionamento de mão dupla. Como todo relacionamento, deve ser baseado na confiança, no cumprimento de compromissos pré-estabelecidos, em pedidos que não se resumem a interesses egoístas, praticando, sobretudo, a honestidade.

É de mão dupla porque falamos com Ele através da oração e “escutamos” através da meditação. Escutar, neste sentido, é restaurar e/ou interiorizar os princípios de forma a conseguir reestruturar os pensamentos automáticos e mal adaptativos, controlar as emoções, entre outros.

Ainda assim, haverá momentos em que teremos algum desejo e/ou dúvida e submetê-lo aos princípios pode não ser suficiente. Por exemplo, recebemos uma proposta de emprego e não sabemos se aceitamos ou não. Neste caso, a intuição é a expressão da orientação divina. Em 2005, quando Steve Jobs já doente discursou para os alunos de Stanford, ele disse que temos de ter coragem de seguir nosso coração e intuição. Pessoas com espiritualidade desenvolvida certamente estarão tomando a decisão mais acertada.

Por fim, não podemos esquecer que o Poder Superior faz a parte dele. Simplesmente pedir orientação não resolve. É preciso iniciativa. Pedir um emprego para Deus sem ao menos um currículo é uma grande ilusão.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Mensagem do dia - Gratidão


Nossa reflexão de hoje é sobre a gratidão.

Ela pode ser definida como o ato ou sentimento de reconhecimento por alguém ou alguma coisa.

É muito fácil sentir gratidão quando as coisas estão indo bem em nossas vidas. Quando conseguimos um bom emprego, recebemos uma promoção ou aumento de salário, quando recebemos um presente, quando atingimos determinado objetivo ou sonho (material ou não), quando recebemos elogios, quando encontramos um(a) namorado (a) legal, entre outros, a tendência é de que fiquemos muito gratos.

Aprendemos que o dependente químico, de forma geral, desenvolve um tipo de personalidade em que acredita na teoria da determinação, que aquilo que somos não pode ser modificado, que nossas características são imutáveis, o chamado código mental fixo ou permanente.  Sendo assim, precisamos provar aos outros e, principalmente, a nós mesmos que aquilo que temos, nossa inteligência, talento, entre outros é o suficiente para que sejamos melhores que os outros, ou seja, para que tenhamos sucesso.

Neste sentido, emprego, promoção, aumento, metas alcançadas, entre outros, seriam a comprovação de que realmente somos pessoas de sucesso, assim como é a razão pela qual as pessoas se aproximem e gostem de nós.

Por outro lado, qualquer contratempo, erro, demora, dificuldade ou problema, neste caso, é motivo para nossa ingratidão. Notadamente, em razão de nosso código mental, estas situações estariam nos enviando mensagens de que fracassamos, desconstruindo aquela imagem superior que criamos de nós mesmos.

Com isso, retornamos ao sentimento de autopiedade, um padrão característico da ativa. Voltamos a ter aqueles mesmos pensamentos negativos, destrutivos e egocêntricos de que o mundo é injusto para conosco.

Retomando atitudes negativas, geralmente temos dificuldades para assumir responsabilidades porque ao fazê-lo somos obrigados a assumir também as irresponsabilidades e voltamos a culpar as pessoas por tudo aquilo que não é “bom” para nós e que tem acontecido em nossas vidas. Ficamos ressentidos com os outros e voltamos a tomar o “veneno” da raiva esperando que o outro morra. Ficamos intolerantes com as pessoas. Desconfiamos, inclusive, de nosso relacionamento com o Poder Superior, que Ele não estaria sendo justo conosco. Começamos abandonar a irmandade, entre outras coisas.

Por outro lado, aprendemos, também, que nossa percepção é seletiva. A percepção pode ser definida como o processo pelo qual cada indivíduo seleciona, organiza e dá um sentido ao mundo que o rodeia. Ela é seletiva porque cada um escolhe os objetos ou estímulos de acordo com seus padrões de referência.

Grosso modo, poderíamos dizer que a percepção seletiva acontece porque achamos aquilo que procuramos. Ou seja, se procurarmos desvios e/ou inadequações em pessoas aparentemente corretas, acharemos aquilo que procuramos. Assim como se procurarmos qualidades em pessoas que aparentemente são a expressão da inadequação, certamente também acharemos.

Isso também pode acontecer com nossa atenção e memória na medida em que passamos por uma situação triste e nossa mente busca outras também tristes. A ciência chama isto de espiral depressiva ou decrescente. Se prestarmos atenção naquilo que não está bem, provavelmente tudo estará mal. Por isso, a recuperação também é um estado mental.

Uma ferramenta bastante eficaz para mudar este estado mental é fazer uma lista de gratidões. Nesta lista podemos incluir as pessoas que nos amam, que nos apóiam, que nos ajudam sem esperar qualquer coisa em troca, os companheiros de NA, a programação de 12 passos que nos proporcionou o despertar espiritual e uma nova maneira de viver. Assim como o dia que podemos desfrutar, um bom lugar para dormir, a ausência de doenças, a família maravilhosa que temos, as dádivas do Poder Superior que estamos recebendo progressivamente, tudo aquilo de bom que vem acontecendo em nossa recuperação e merece nossa gratidão.

Não ser grato por tudo isto pode nos devolver ao caminho da autodestruição. Da mesma maneira que o fato da dor da ativa e das expectativas de resultados com relação às drogas nos impulsionara para a recuperação, caso a recuperação se torne dolorosa demais, que esta dor seja maior que os momentos de alegria, pode ser um grande fator de risco para o uso ou recaída.

Por isso, só por hoje, vamos olhar para as coisas boas da recuperação e ser muito gratos por todas elas.
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