Nossa reflexão de hoje é sobre honestidade.
O que é honestidade? Muitos de nós definiríamos
honestidade como a atitude de falar a verdade. Faz sentido, mas além de não
mentir para os outros, inclui principalmente não mentir para nós mesmos.
De forma geral, o dependente químico, motivado por
um código mental ou paradigma chamado fixo ou permanente, desenvolve um tipo de
personalidade em que, por acreditarmos que nossas características são imutáveis,
necessitamos provar a nós mesmos que temos valor. Por exemplo, precisamos
provar a nós mesmos que nossa inteligência é suficiente. Que temos algum
talento. Que somos “legais”. Que não temos “defeitos”. Que não temos problemas
com álcool e outras drogas. Notadamente, por trás deste código também está a
ideia de que o mundo é uma competição e que nós somos melhores que os outros de
acordo com as referências sociais. Precisamos provar isto.
Sendo assim, criamos uma personalidade de camaleão
completamente adaptativa, pois nosso senso de valor dependia do atendimento às
expectativas dos outros. Mesmo antes do primeiro contato com drogas, é comum
dependentes tomarem a decisão de fazer uso de substâncias psicoativas (PSA)
acreditando ser condição fundamental para sua aceitação no grupo. Muitos de nós
tivemos o comportamento, em grande medida, determinado pelo meio em que
vivemos.
Como conseqüência, era natural nosso isolamento
tendo em vista que qualquer aproximação poderia ser uma ameaça a nossa
superioridade, à criação que havíamos feito de nós mesmos. Entretanto, na
verdade sabíamos que tínhamos problemas, por isso os relacionamentos
representavam um grande perigo e reconhecer estes defeitos seria uma dor muito
grande.
Com isso, negamos nossos problemas com drogas,
nossos pensamentos destrutivos, nossas inabilidades emocionais e nossos
comportamentos inadequados. Racionalizamos que o tempo em que ficávamos sem
drogas era indicador de que não éramos dependentes, que tínhamos o controle,
assim como que o modelo social de dependente estava muito longe do nosso
comportamento, entre outras situações. Justificávamos que a responsabilidade
por usarmos droga era da família, dos amigos, do trabalho, dos lugares, da
localização geográfica, entre outros.
Era confortável não ter que falar a verdade, mas,
por muitas vezes, as conseqüências foram gravíssimas. Além disso, muitos de nós
tínhamos uma consciência que ainda nos chamavam atenção quando tínhamos determinados
comportamentos. Nossa personalidade era completamente diferente de nosso caráter.
Segundo Narcóticos Anônimos (NA), a honestidade é
um princípio espiritual fundamental para a recuperação e é o oposto da negação.
Começamos a ser honestos quando admitimos que somos
impotentes não somente em relação às drogas, mas em relação a nós mesmos e que
nossas vidas haviam se tornado incontroláveis.
Pode ser doloroso reconhecer onde estamos, mas
diferentemente do que pensávamos, nossas características não são permanentes,
podemos modificá-las, mas para tanto é necessário honestidade e humildade. E a
condição para ser honesto com os outros, é começar falando a verdade para nós
mesmos.
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