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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Mensagem do Dia - Livrar a Cara ou Salvar a Pele


A discussão de hoje é sobre nossa insistência insana e improdutiva em tentar esconder nossos defeitos.

Segundo a Ética da Personalidade, em oposição à Ética do Caráter, o sucesso e felicidade dependem muito mais de técnicas de relações humanas e sociais do que qualquer reforma íntima. É o mesmo que dizer que nossa imagem é o mais importante. Sendo assim, devemos explorar nossas qualidades e maquiar nossos defeitos.

Por outro lado, é comum por parte de dependentes químicos, principalmente na ativa, o medo de inferioridade e rejeição. Influenciados por suas experiências, motivações e sentimentos temem que se as pessoas descobrissem a verdade sobre eles, mesmo em relação ao passado, provavelmente se afastariam. Este tipo de preocupação é fortemente responsável pelo isolamento.

Por trás de tudo isto podemos destacar que há o que aprendemos como código mental fixo ou permanente. Por considerar que seu caráter está determinado e, assim, é imutável, a exposição de seus defeitos equivale à confissão de seus fracassos porque não conseguiria se livrar deles. Entretanto, para alguém com este tipo de código mental, não se discute esta possibilidade tendo em vista que precisa de afirmações cotidianas de que aquilo que ele é o faz melhor que as outras pessoas.

Por conseqüência, o dependente tende a utilizar-se de máscaras criando assim uma personalidade que tem por objetivo tanto agradar as pessoas como, principalmente, protegê-lo.

Quando conhecemos as experiências de outros companheiros, descobrimos por que estes defeitos têm poder sobre nós enquanto tentamos mantê-los escondidos de todos.

Lutar contra estes defeitos fazem parte do processo de negação. Se lembrarmos quando tentávamos de várias maneiras controlar nosso uso de álcool e outras drogas e não conseguíamos, isto nos deixava péssimos e alimentava bastante nossa adicção. Da mesma maneira, quando tentamos provar a nós mesmos que não temos algum defeito, as situações nos provam do contrário e nos colocam na mesma situação constrangedora e destrutiva.

Gostamos de lembrar o exemplo citado pelo psiquiatra Viktor Frankl em seu livro “Em busca de sentido” quando explica a técnica criada por ele denominada logoterapia ou intenção paradoxal. “Caso semelhante foi me contado por um colega (...). Fora o mais grave caso de gagueira que ele tinha visto em muitos anos de profissão. De acordo com sua memória, nunca em sua vida o gago estivera livre de seu problema de fala, com uma única exceção. Esta ocorreu quando ele tinha doze anos, ao andar de bonde sem pagar passagem. Ao ser pego pelo cobrador, pensou que a única maneira de se safar seria conquistar a compaixão dele e tratou de demonstrar que era um pobre menino gago. Mas no momento em que tentou gaguejar, foi incapaz de fazê-lo.”

Sempre utilizamos este trecho quando falamos do processo de negação porque exemplifica claramente os resultados positivos da admissão e aceitação. Precisamos aceitar nossos defeitos.

Em segundo lugar, fica muito claro como lutar contra os defeitos pode nos transformar em uma grande panela de pressão a explodir a qualquer momento.

Por último, a humildade necessária para o reconhecimento de nossos defeitos é condição fundamental para a nossa mudança. Duas questões são fundamentais neste processo de recuperação: começar a desenvolver um novo código mental construtivo no sentido de reconhecer a possibilidade de transformação pessoal e expor nossos defeitos. Se os defeitos eram a razão de nossa vergonha, esta só poderá desaparecer se cumpridas estas duas exigências, porque só assim poderemos ser ajudados.

É natural que não nos sintamos a vontade para expor estes defeitos para todas as pessoas. Mas precisamos fazê-lo a algum companheiro ou profissional de confiança. Dor partilhada é dor diminuída.

Por fim, descobriremos que é impossível para além do curto prazo mantermos máscaras porque nossa imagem tende a refletir nosso caráter. Podemos imaginar que necessitamos livrar nossa cara nos escondendo, mas quando expomos nossos defeitos a alguém de confiança, esta pessoa nos aceita, não nos aponta, nos entende e nos ajuda a melhorar. Descobrimos, então, que ao fazê-lo, na verdade, estamos salvando nossa pele. Segundo a literatura de Narcóticos Anônimos (NA), “estes defeitos crescem no escuro e morrem à luz da exposição”.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Mensagem do Dia - Abstinência e Reestruturação


Nossa reflexão de hoje é sobre a abstinência como condição para a recuperação, assim como o papel desta na transformação do dependente.

Mesmo na ativa, ou seja, fazendo uso de substâncias psicoativas (PSA) ou drogas recreativas que alteram a mente, acreditamos que se o dependente químico fosse questionado sobre as motivações que o levam a usar, com exceção de casos extremos de obsessão e compulsão, provavelmente a maioria saberia responder: influência, status, para se sentir parte de grupos, prazer, sensação de superioridade, anestesiar sentimentos, obsessão, compulsão, entre muitos outros.

Por outro lado, pensamos que o reconhecimento dos perigos parece um pouco mais difícil ou então mesmo reconhecendo-os perdeu a possibilidade de escolher ou não acredita que algo ruim pode acontecer com ele.

Em recuperação, provavelmente todos chegamos à conclusão de que estávamos seguindo o caminho da morte e autodestruição. Conforme sugere a literatura de Narcóticos Anônimos (NA), comprávamos nossa destruição às prestações.

Entretanto, não se tratava apenas de um processo que se desenvolvia e naturalmente conduziria à morte. Os riscos que envolviam o uso, as pessoas com as quais nos relacionávamos, os ambientes sociais que freqüentávamos, as situações de perigo em que nos envolvíamos eram ameaças muito presentes em relação à morte que poderia acontecer a qualquer momento.

Com o desenvolvimento de nossa recuperação, descobrimos que mesmo sem drogas não tínhamos aprendido a viver, ou seja, nossa personalidade adictiva se estendia a quase todas as áreas de nossas vidas. De forma geral, nossos pensamentos e convicções são automáticos negativos, destrutivos, exigentes e egoístas, não temos habilidade para lidar com as emoções e nossos comportamentos, por conseqüência, são inadequados.

Por isso, a primeira condição para a mudança é a abstinência. Sem ela conseguiremos fazer muito pouco em favor da nossa recuperação, principalmente considerando quão condicionadas podem estar nossas ações. Provavelmente passaremos ainda por muitas situações que nos levaram a usar, entretanto é preciso que assumamos nosso compromisso com a recuperação. Neste caso, é fundamental lembrar-se de onde viemos e daquilo que fazia parte de nossa ativa, principalmente do ponto de vista espiritual, assim como onde poderemos terminar.

A abstinência é uma condição necessária, mas não é suficiente. Considerando nossa personalidade, precisamos de uma revisão detalhada do nosso conjunto de valores e, principalmente, uma reforma íntima completa de forma geral. Restaurar alguns princípios espirituais naturais e responsáveis pela eficácia humana é fundamental, assim como interiorizar muitos outros. Estes serão responsáveis por uma nova consciência que será consultada no momento de nossas decisões. Da mesma maneira, intervenções cognitivas no sentido de reestruturar aqueles pensamentos e comportamentais no sentido de ter estratégias para situações específicas podem dar muitos resultados.

Todavia, este trabalho deve ser constante. Tem que se tornar um hábito. Costumamos lembrar que nossa personalidade e padrões de comportamento levam muitos anos até sua formação. Mudá-los, da mesma maneira, exigirá muita dedicação, determinação e disciplina.

domingo, 26 de agosto de 2012

Mensagem do Dia - Importância da Auto-avaliação ou Diário


Nossa discussão de hoje é sobre a importância do inventário diário, auto-avaliação ou simplesmente diário.

Durante nossa ativa, podemos considerar que a possibilidade e/ou importância de auto-avaliação eram remotas ou mínimas. Em razão de uma vida completamente desequilibrada e, principalmente, controlada pelas drogas, conseguir um período por menor que fosse para se dedicar a este tipo de exercício pessoal era praticamente impossível.

Por outro lado, faltava sentido neste tipo de exercício diário. Discutimos em alguns textos como o determinismo cria em dependentes químicos um tipo de personalidade que acredita que não temos escolhas, que nossas características já estão determinadas e são imutáveis. A partir deste tipo de pensamento, podemos até reconhecer nossa impotência em relação ao álcool e outras drogas, mas não há nada que possamos fazer. Neste sentido, qualquer exercício de autoconhecimento é uma grande ameaça na medida em que pode revelar que somos muito piores do que imaginávamos.

Mesmo em recuperação, o dinamismo e velocidade de nossas vidas tornam este exercício muito difícil. São diversas as responsabilidades e papéis que temos como, por exemplo, trabalho, família, estudo, amigos, projetos sociais, entre outros. A sobrecarga de informações que recebemos a todo o momento e com a qual temos que lidar também é considerável. Por outro lado, algumas tarefas ou atividades cotidianas fazem parte de processos automáticos ou inconscientes como, por exemplo, o ato de comer. Dificilmente prestamos atenção como comemos. Por último, durante nossos dias, geralmente temos dificuldade para usar nossa autoconsciência, ou seja, pensar sobre nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos. Por tudo isto, sem um estado mental adequado fica complicado nos perceber e compreender mais amplamente aquilo que está acontecendo em nossas vidas.

Em algumas situações, motivados por boas intenções, podemos ter dificuldades para reconhecer erros, idéias de outras pessoas ou mesmo eventuais prejuízos que estamos causando a estas pessoas. Por exemplo, quando ficamos responsáveis por reunir as muitas idéias do grupo e finalizar o trabalho de escola ou quando tomamos uma decisão unilateral em nosso trabalho.

Assim como, podemos cobrar alguns desvios de comportamento como arrogância, desonestidade, procrastinação, entre outros, quando na verdade são atitudes que minutos depois estaremos tendo.

Em outras, seremos exageradamente críticos com outras pessoas motivados por modelos de perfeição e expectativas elevadas que criamos para nós mesmos, sendo, na maioria das vezes, intolerantes e ficando ressentidos.

Por último, podemos subdividir o ser humano de acordo com Covey (2010) em 4 dimensões que se interrelacionam entre si: físico, mental, social/emocional e espiritual. A qualidade de vida depende da manutenção equilibrada destas 4 dimensões. Por exemplo, será insuficiente nossa dedicação em atividades físicas com o objetivo de um corpo definido ou forte se não procurarmos ler ou o desenvolvimento de nossa espiritualidade que está fortemente relacionada com as outras três dimensões.

De forma geral, regularmente podemos retomar atitudes negativas e retornar ao padrão de comportamento de nossa ativa, mas a intensidade de nossos dias podem não permitir que percebamos isto.

Neste sentido, o diário aparece como uma ferramenta poderosa. Entretanto, ele só será eficaz se transformado em hábito e, portanto, praticado regularmente.

Algumas restrições podem dificultar o exercício da auto-avaliação como o 4º passo ou a revisão de outros de Narcóticos Anônimos (NA), assim como hipotéticas idéias de que fazê-lo pode ser muito difícil porque é algo novo. Na verdade, é muito fácil.

Só precisamos dedicar um pequeno tempo de nossos dias, sugerimos que seja à noite, para refletirmos sobre o dia que passou. Precisamos de um estado mental adequado e menos agitado que pode ser alcançado com a prática da oração e meditação antes do exercício. Para aqueles que têm dificuldades para escrever sobre seus dias, o folheto “Viver o Programa” de Na ou as perguntas do 10º passo podem servir de orientação.

O inventário funciona, também, como uma válvula de escape para nossas pressões, assim como a partilha. Através daquele, utilizamos nossa autoconsciência, nos conhecemos melhor, descobrimos aquilo que tem nos motivado, reconhecemos nossos erros e as conseqüências destes, acompanhamos a evolução de nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos, percebemos indicadores de lapso e recaída e analisamos em que medida aquilo que temos feito está relacionado com nossas metas e objetivos definindo, assim, o que precisamos manter e o que descartar, ente outras coisas.

Por fim, gostamos de lembrar que a recuperação de todo dependente químico é feita de atitudes positivas. Podemos classificar o inventário diário entre as mais importantes. Entretanto, não se trata tão simplesmente de uma atitude ou prática, mas de um hábito que se assimilado pode nos transformar radicalmente, assim como nossas vidas.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Mensagem do Dia - Liberdade de Escolha


A discussão de hoje é sobre nossa liberdade de escolha.

Segundo a literatura de Narcóticos Anônimos (NA), “Antes de ficarmos limpos, a maior parte de nossas ações eram guiadas por impulsos” (p. 98. Texto Básico)

A ideia de impulso é resultado, em grande medida, da experiência com cachorros de Pavlov e sua teoria de que estamos condicionados a reagir de determinada maneira a um estímulo ou impulso específico, assim como está, principalmente, associada à Psicologia Comportamental ou Behaviorista.

Impulso pode ser definido como um estímulo que possui força suficiente para nos levar a fazer determinada ação. Eles podem ser básicos ou primários e adquiridos ou secundários. Nosso passado nos leva a acreditar que, durante nossa ativa, muitas, senão a totalidade de nossas atitudes era determinada por impulsos.

Há um princípio que lembra que todas as coisas são criadas duas vezes, podemos chamá-lo de princípio da dupla criação. Segundo ele, a primeira criação é uma criação mental e a segunda, uma criação física. Podemos compará-lo à construção de uma casa. Primeiro, imaginamos o tipo de residência que queremos, depois transformamos nossa ideia em uma planta, planejamos a construção e só então damos início. Não idealizar nossa casa, por exemplo, pode ser muito arriscado, principalmente do ponto de vista financeiro, porque provavelmente serão muitas as modificações que decidiremos fazer.

De forma geral, em nossas vidas, não se preocupar com a primeira criação ou o planejamento implica, necessariamente, entregar a outras pessoas, circunstâncias, condições, entre outros, a possibilidade de determinarem nossos comportamentos. Durante nossa ativa, era o que acontecia, principalmente em relação às drogas. E as conseqüências deste tipo de omissão são geral e notadamente desastrosas.

Eram muito grandes nossas dificuldades para tomar decisões não somente em razão de obsessões e compulsões, mas também porque assim estaríamos assumindo responsabilidades e, por conseqüências, eventuais irresponsabilidades. Isto nos assustava. Por outro lado, o determinismo, os ressentimentos, entre outros fatores negativos, tinham peso muito expressivo em nossos comportamentos.

Em recuperação, começamos a descobrir que entre qualquer estímulo e resposta há sempre um espaço chamado liberdade de escolha. Ele pode ser relativamente pequeno, mas sempre existirá. Usamos nossa autoconsciência, ou seja, pensamos sobre os nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos, submetemos nossas vontades à consciência do que é certo ou errado, podemos isolar quaisquer influências e decidir com independência, assim como imaginar possíveis escolhas e, principalmente, suas conseqüências. Embora não possamos controlar os resultados de nossas ações, podemos prevê-los e assim fazer escolhas mais prudentes e responsáveis.

Percebemos que independentemente das influências que sofremos em nossas vidas, nosso futuro depende de nossas escolhas, da iniciativa e responsabilidade em relação a elas, o que podemos chamar de proatividade. Segundo a literatura de NA, não somos culpados por nossa doença, mas somos responsáveis por nossa recuperação.

Notadamente, uma nova consciência é indispensável para boas escolhas. Podemos consegui-la restaurando alguns princípios espirituais básicos da eficácia humana, assim como interiorizando outros. O programa de 12 passos com o despertar espiritual progressivo resultante dele é uma ferramenta poderosa para tanto. Neste sentido, a orientação de um profissional ou padrinho também pode ajudar muito.

Entretanto, toda decisão final é pessoal. Segundo o livro Minutos de Sabedoria, “Os conselhos ajudam. Mas não se esqueça de que a solução de nossos problemas está dentro de nós mesmos, na voz silenciosa de nossa consciência, que é a voz de Deus dentro de nós. Não se deixe enganar: só você será o responsável pelo caminho que escolher”.

Por fim, depois que conhecemos a liberdade de escolha torna-se inconcebível qualquer pensamento no sentido de viver sem poder escolher, abrindo mão de ser livres.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Mensagem do Dia - Como encarar a morte de quem amamos?


Nossa reflexão de hoje é sobre como podemos encarar a morte de alguém próximo de uma perspectiva mais positiva ou menos negativa.

Se para todo indivíduo não-dependente é relativamente difícil lidar com o falecimento de alguém que ama, para nós é muito mais complicado.

Discutimos em outros textos nossas inabilidades para lidar com frustrações, ou seja, com expectativas não atendidas. Mesmo que pareça uma estultícia, inconscientemente acreditamos que aquela pessoa sempre estará ao nosso lado. Se não pensamos em sua imortalidade, certamente temos em mente que morreremos primeiro.

Também aprendemos que o dependente químico, de forma geral, oscila entre a independência física, intelectual e financeira na medida em que pensa que não precisa dos outros e a dependência emocional considerando que o senso de valor e segurança depende da opinião alheia.

Perder alguém que vivíamos em função e era nossa referência é muito difícil. A ausência desta pessoa e, por conseqüência, desta orientação e apoio incondicional pode instalar o medo de não conseguir viver sem ela, porque dificilmente alguém irá sustentar a visão que criamos de nós mesmos.

O sentimento de perda será muito grande, não somente pela ausência de sustentação, mas também porque, em alguns casos, amávamos aquela pessoa. Entretanto, é um momento propício para aprendermos a lidar com esta emoção e assim crescer, ao invés de anestesiá-la com substâncias psicoativas (SPA), além de olharmos o mundo com outra perspectiva.

Steve Jobs levava uma filosofia muito parecida com o “Só Por Hoje”. Ele acertadamente pensava que se levasse seu dia como se fosse o último, um dia certamente estaria certo e inevitavelmente perguntava a si mesmo todas as manhãs se estaria fazendo o que planejara se de fato fosse o último dia de sua vida, ou seja, se estaria fazendo aquilo que era mais importante para ele.

Hoje assistimos à palestra de um médico sobre o mesmo tema e melhorando um pouco a ideia ele explicou que considerar aquele momento como único é muito mais eficaz do que pensá-lo como último. Ele citou como exemplos pacientes de câncer em fase terminal. Mesmo não havendo outra oportunidade em ambos os casos, o momento único é aquele que marca nossas vidas e muitas vezes a definem.

Segundo Covey (2010), um exercício muito eficaz para identificar aquilo que é realmente importante para nós é imaginarmos que estaríamos participando de nosso próprio velório. Alguém representando nossa família, outro os amigos, os colegas de trabalho, entre outros, todos falariam sobre nossa história de vida e tentariam nos definir. Como gostaríamos de ser lembrados?

Neste sentido, a perda de alguém querido pode nos estimular a pensar a respeito do sentido da vida, quais nossas prioridades e, principalmente, aquilo que realmente importa para nós.

Determinantes da Recaída - Parte 1


No texto de hoje daremos continuidade à série de discussões sobre a Prevenção de Recaída (PR) ou Plano de Prevenção de Recaída (PPR).

Algumas variáveis são determinantes para a ocorrência ou não do lapso, assim como do processo de recaída completa. Elas são classificadas entre intrapessoais e interpessoais. As intrapessoais incluem fatores ambientais, mas são assim genericamente chamadas porque estão relacionadas, de forma geral, à subjetividade, à pessoalidade, àquilo que é interior ou intrínseco de cada paciente. São elas: auto-eficácia, expectativas de resultado, motivação, enfrentamento, estados emocionais e fissura. Por outro lado, as interpessoais se referem aos relacionamentos de forma geral e são denominadas de apoio social.

Nesta primeira parte sobre estes determinantes, concentraremos nossa discussão na auto-eficácia, expectativas de resultado e motivação.

A auto-eficácia pode ser definida como o grau de confiança do paciente em sua própria habilidade de realizar determinado comportamento em um contexto específico, ou seja, a confiança que, para dadas situações consideradas de alto risco, o paciente reconhece e consegue aplicar estratégias de enfrentamento eficazes.

Por exemplo, ao perceber um bar na calçada onde está andando muda de lado porque aquilo tem apresentado resultados. Quando amigos que consomem bebidas alcoólicas o convidam para sair, não aceita o convite tendo em vista que poderá não resistir caso saia com os amigos. Ao sentir-se sozinho ou com outras emoções negativas procura um amigo ou profissional para conversar sobre porque, em outras situações, isto o manteve em recuperação. Naturalmente, com o tempo e a experiência de muitas estratégias, a auto-eficácia tende a aumentar. Quanto mais autoconfiante por o paciente, menores são as chances de uso.

As expectativas de resultados significam os efeitos que o paciente espera obter com o consumo de álcool e outras drogas. Estes efeitos são classificados entre positivos e negativos. Prazer, euforia, relaxamento, sociabilidade, ilusão, expansão do raciocínio, status, poder, segurança, entre outros, são considerados positivos. Depressão, ressaca, fobias ou medos, risco de morte, perda de emprego, morar na rua, entre outros, são considerados negativos.

Naturalmente as experiências anteriores tendem a influenciar a decisão de consumir drogas, cabendo destacar, também, que nem sempre os efeitos esperados correspondem necessariamente aos reais. O paciente que esperar prazer e euforia em relação ao uso tem muito mais chances de usar do que aquele que espera o estado depressivo, morrer por overdose, perder seu emprego ou ser expulso de casa pela família.

Por último, a motivação é um “estímulo consciente ou inconsciente para a ação rumo a um objetivo desejado, proporcionado por fatores psicológicos ou sociais; o que dá propósito ou direção ao comportamento”. Ela é considerada bidirecional porque se dá em duas direções, ou seja, tanto para a mudança positiva de comportamento como para o envolvimento com comportamentos-problema. Por isso é chamada de motivação para a mudança ou motivação para o uso.

O modelo de prontidão para a mudança (Prochaska e DiClemente. 1984) é dividido em cinco fases ou níveis; pré-contemplação, contemplação, preparação, ação e manutenção. Na Pré-contemplação, o paciente não está consciente do problema e não possui a intenção de mudar. Na Contemplação, o paciente está consciente do problema, mas ainda não tem a intenção de mudar. Na Preparação, o paciente tem a intenção de mudar. Na Ação, o paciente concretiza a mudança e na Manutenção, já aconteceu a mudança e o paciente está procurando manter o comportamento modificado. O estado desejado para a aplicação da Prevenção de Recaída é, no mínimo, a Preparação, pois nesta fase o dependente está consciência de sua doença e tem a intenção de mudança.

Notadamente, a motivação está relacionada tanto com a auto-eficácia quanto com as expectativas de resultado. Por exemplo, o paciente acreditar que não vai conseguir dizer não, que seu desempenho sem drogas será ruim ou que seus amigos usam e para fazer parte do grupo deve usar pode motivá-lo a usar. Ao contrário, se acreditar que usar pode deixá-lo muito mal, lembrar que está conseguindo enfrentar suas dificuldades e/ou problemas sem drogas, que está se autoconhecendo, pode concorrer para a manutenção da abstinência.

Na próxima parte, falaremos sobre as outras variáveis ou determinantes.

domingo, 19 de agosto de 2012

Conheça um pouco mais sobre Narcóticos Anônimos (NA)


Mensagem do Dia - Simplicidade e Prioridade


Nossa reflexão de hoje é sobre a necessidade de prioridades e simplicidade em nossas vidas.

Já discutimos em outros textos como o relacionamento com álcool e outras drogas podem desenvolver no dependente químico muitas inabilidades e uma ideia muito vaga de vida de forma geral. Enquanto a maioria das pessoas passava pelo processo natural de desenvolvimento, assumiam responsabilidades, enfrentavam, aprendiam e cresciam com os desafios, entre outros, o dependente químico refugiava-se em substâncias psicoativas (SPA).

Por conseqüência, adquirimos o hábito de superdimensionar as dificuldades, quando elas existiam, e transformá-las em problemas. Em recuperação, muito se ouve sobre as diferenças entre dificuldade e problema. Procuramos pesquisar e refletir um pouco a respeito de quais seriam. A dificuldade pode ser entendida como obstáculo, embaraço, apuro, contratempo, dúvida. É aquilo que é ou pode tornar algo difícil. No entanto, seria mais fácil contorná-la e as conseqüências, geralmente, não são tão graves. Por outro lado, o problema pode ser algo mais difícil de lidar e/ou resolver, principalmente porque, geralmente, compreende um conjunto de dificuldades. Exige uma solução mais elaborada e suas conseqüências, de forma geral, são mais drásticas. Segundo a filosofia, é algo que perturba a paz e/ou harmonia de alguém que possui algum.

As conseqüências pelas quais este tipo de personalidade é responsável também estão muito associadas à obsessão, ou seja, pensamentos fixos em alguém ou alguma coisa sobre os quais temos nenhum controle. Sempre, em nossas vidas, dizemos sim e não tanto para tarefas e outros como também para pensamentos, do ponto de vista cognitivo. Na medida em que nos concentramos e não reestruturamos pensamentos como estes, eles são alimentados e nos levam quase que à paralisação porque não conseguimos prestar atenção em quase mais nada.

Por exemplo, o agendamento inesperado de uma avaliação na escola ou faculdade, ao invés de nos estimular, por exemplo, a revisar o conteúdo estudado desde a última avaliação, pode nos paralisar com a ideia e o medo de que iremos mal, principalmente se já passamos por alguma experiência dramática parecida.

Quando entramos em recuperação, podemos nos assustar com a observação da necessidade de mudança radical em nossas vidas em razão da orientação que elas adquiriram em nossa ativa. A filosofia do “Só Por Hoje” lembra que nossas vidas ficam mais fáceis e mais produtivas quando vivemos um dia de cada vez. No entanto, ainda assim, um dia pode ser muito. Neste caso, é sugerido que vivamos um momento de cada vez.

Mesmo de momento em momento, é provável que tenhamos algumas dificuldades e/ou problemas para contornar ou resolver. Por isso, é extremamente importante a definição daquilo que é prioritário, ou seja, fazer por primeiro as coisas mais importantes. Segundo Goethe, “as coisas mais importantes nunca devem ficar à mercê das menos importantes”.  

Por outro lado, a necessidade de priorização aponta para outra: a de planejamento. Não conseguimos reconhecer aquilo que é prioridade sem antes identificar e definir aquilo que é importante. Precisamos de alguma referência. Viver um dia de cada vez ou de momento em momento não pode ser confundido com um tipo de vida em que vivemos sentados em um banquinho esperando algum fogo ao nosso redor para apagarmos. Assim, nossas vidas não fazem qualquer sentido. Sonhos, objetivos, metas são necessários.

Assim como, precisamos assumir a disposição da boa vontade no sentido de fazer algo mesmo que não seja nossa vontade ou desejo. Segundo Gray em seu livro “O denominador comum do sucesso”, “as pessoas bem-sucedidas têm o hábito de fazer coisas que os que falharam não gostam. Elas não gostam de fazê-las, tampouco. Mas sua contrariedade se subordina à força de seus propósitos”.

Por fim, simplicidade não significa fazer as coisas mais fáceis. Por exemplo, o economista comportamental Daniel Pink, em seu livro Motivação 3.0, descobriu que uma fonte de frustração no ambiente de trabalho é o desencontro freqüente entre o que se precisa fazer e o que se pode fazer. Quando o que é preciso fazer está além de nossa capacidade, o resultado é a ansiedade. Quando o que é preciso fazer está aquém de nossa capacidade, o resultado é o tédio. Como resposta, ele criou o conceito de “tarefas cachinhos dourados” para desafios nem muito interessantes, nem muito chatos, nem especialmente difíceis nem especialmente fáceis. É um conceito muito interessante que podemos utilizar em nossa recuperação.
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