Nossa reflexão de hoje é sobre a gratidão.
Ela pode ser definida como o ato ou sentimento de
reconhecimento por alguém ou alguma coisa.
É muito fácil sentir gratidão quando as coisas
estão indo bem em nossas vidas. Quando conseguimos um bom emprego, recebemos
uma promoção ou aumento de salário, quando recebemos um presente, quando
atingimos determinado objetivo ou sonho (material ou não), quando recebemos
elogios, quando encontramos um(a) namorado (a) legal, entre outros, a tendência
é de que fiquemos muito gratos.
Aprendemos
que o dependente químico, de forma geral, desenvolve um tipo de personalidade
em que acredita na teoria da determinação, que aquilo que somos não pode ser modificado,
que nossas características são imutáveis, o chamado código mental fixo ou
permanente. Sendo assim, precisamos
provar aos outros e, principalmente, a nós mesmos que aquilo que temos, nossa
inteligência, talento, entre outros é o suficiente para que sejamos melhores
que os outros, ou seja, para que tenhamos sucesso.
Neste sentido, emprego, promoção, aumento, metas
alcançadas, entre outros, seriam a comprovação de que realmente somos pessoas
de sucesso, assim como é a razão pela qual as pessoas se aproximem e gostem de
nós.
Por outro lado, qualquer contratempo, erro, demora,
dificuldade ou problema, neste caso, é motivo para nossa ingratidão.
Notadamente, em razão de nosso código mental, estas situações estariam nos
enviando mensagens de que fracassamos, desconstruindo aquela imagem superior
que criamos de nós mesmos.
Com isso, retornamos ao sentimento de autopiedade,
um padrão característico da ativa. Voltamos a ter aqueles mesmos pensamentos
negativos, destrutivos e egocêntricos de que o mundo é injusto para conosco.
Retomando atitudes negativas, geralmente temos
dificuldades para assumir responsabilidades porque ao fazê-lo somos obrigados a
assumir também as irresponsabilidades e voltamos a culpar as pessoas por tudo aquilo
que não é “bom” para nós e que tem acontecido em nossas vidas. Ficamos
ressentidos com os outros e voltamos a tomar o “veneno” da raiva esperando que
o outro morra. Ficamos intolerantes com as pessoas. Desconfiamos, inclusive, de
nosso relacionamento com o Poder Superior, que Ele não estaria sendo justo
conosco. Começamos abandonar a irmandade, entre outras coisas.
Por outro lado, aprendemos, também, que nossa percepção é seletiva.
A percepção pode ser definida como o processo pelo qual cada indivíduo seleciona,
organiza e dá um sentido ao mundo que o rodeia. Ela é seletiva porque cada um
escolhe os objetos ou estímulos de acordo com seus padrões de referência.
Grosso modo, poderíamos dizer que a percepção
seletiva acontece porque achamos aquilo que procuramos. Ou seja, se procurarmos
desvios e/ou inadequações em pessoas aparentemente corretas, acharemos aquilo
que procuramos. Assim como se procurarmos qualidades em pessoas que
aparentemente são a expressão da inadequação, certamente também acharemos.
Isso também pode acontecer com nossa atenção e
memória na medida em que passamos por uma situação triste e nossa mente busca
outras também tristes. A ciência chama isto de espiral depressiva ou
decrescente. Se prestarmos atenção naquilo que não está bem, provavelmente tudo
estará mal. Por isso, a recuperação também é um estado mental.
Uma ferramenta bastante eficaz para mudar este
estado mental é fazer uma lista de gratidões. Nesta lista podemos incluir as
pessoas que nos amam, que nos apóiam, que nos ajudam sem esperar qualquer coisa
em troca, os companheiros de NA, a programação de 12 passos que nos
proporcionou o despertar espiritual e uma nova maneira de viver. Assim como o
dia que podemos desfrutar, um bom lugar para dormir, a ausência de doenças, a
família maravilhosa que temos, as dádivas do Poder Superior que estamos recebendo
progressivamente, tudo aquilo de bom que vem acontecendo em nossa recuperação e
merece nossa gratidão.
Não ser grato por tudo isto pode nos devolver ao
caminho da autodestruição. Da mesma maneira que o fato da dor da ativa e das
expectativas de resultados com relação às drogas nos impulsionara para a
recuperação, caso a recuperação se torne dolorosa demais, que esta dor seja
maior que os momentos de alegria, pode ser um grande fator de risco para o uso
ou recaída.
Por isso, só por hoje, vamos olhar para as coisas
boas da recuperação e ser muito gratos por todas elas.
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