A reflexão de hoje é sobre as razões da felicidade.
É comum o dependente químico desenvolver uma personalidade
centrada em coisas exteriores que se tornam as condições de sua felicidade,
sucesso, segurança, entre outros. Como exemplos para a reflexão de hoje,
separamos o dinheiro e os bens materiais.
Durante a “adicção” ativa, perdemos muitas coisas,
principalmente materiais. Com o principal objetivo de conseguir mais drogas ou
pagar dívidas que o descontrole deixou, é comum vendermos ou trocarmos tudo que
tínhamos: eletrônicos, eletrodomésticos, automóveis, casas e/ou apartamentos,
roupas, calçados, jóias, entre outros.
Quando chegamos pela primeira vez a uma sala de
Narcóticos Anônimos (NA), geralmente convidados por algum companheiro, é
natural ficarmos muito entusiasmados com os benefícios da recuperação que os
membros vêm desfrutando como carros novos, casas, celulares, tablets,
notebooks, roupas e calçados descolados, jóias, entre outros, associando estes
bens materiais à promessa de NA, aquilo que poderá ser conquistado caso freqüentemos
um grupo.
Todavia, as promessas de recuperação se limitam
à libertação da adicção ativa e uma nova maneira de viver proporcionada pelo
despertar espiritual obtido progressivamente com os 12 passos.
Na medida em que buscamos educação e qualificação
profissionais e desenvolvimento pessoal, é natural conquistarmos um bom emprego,
assim como quando as despesas com drogas e bebidas deixam de ser maiores que a
renda mensal, contarmos com recursos financeiros necessários para a compra
destes bens. Entretanto, estes bens não são benefícios ou conseqüências diretas
da recuperação, mas sim indiretas. Isso só é possível em virtude da
transformação pessoal e espiritual.
Entretanto, é preciso muito cuidado com as
escolhas. Todo momento dizemos sim e não para as coisas. Falar sim para algo
implica, em geral, necessariamente falar não para outra. Neste caso, falar sim
para o dinheiro e bens materiais significa necessariamente falar não para a
espiritualidade. Não se trata de dizer que o dinheiro não é importante, mas ele
não é o mais importante. Em recuperação, muitas vezes teremos que trocar o bom
pelo ótimo.
Ou então corremos o risco de cair na armadilha
descrita por Covey (2010) em que nos esforçamos demais para subir a escada do
sucesso e descobrimos que a escada estava apoiada na parede errada. Iremos
estabelecer alguns objetivos para nossa vida que mesmo atingidos não irão
preencher nosso vazio, sacrificando aquilo que era importante e muitas vezes
descobrimos isto tarde demais.
Por exemplo, tentar aliviar dores emocionais com
compras é um grande erro porque mesmo que sintamos algum prazer momentâneo,
nada irá mudar em relação à situação inicial.
Além disso, continuaremos a acreditar, mesmo que
inconscientemente, que a mudança deve ocorrer de fora para dentro. Que os
problemas estão nos outros e no exterior e, portanto, mudando eles, nossa vida
certamente irá melhorar.
Por fim, a recuperação não promete dinheiro ou bens
materiais, mas ela promete uma nova maneira de viver a partir do
desenvolvimento de princípios espirituais e esta deve ser a razão de nossa
alegria, não algo exterior. Em recuperação, a felicidade é resultado da
companhia de amigos, dos familiares, da ajuda que damos aos outros sem esperar
quaisquer recompensas, da confiança em nosso Poder Superior e principalmente
quando descobrimos que estamos conseguindo ser honestos, humildes, tolerantes, comprometidos, ouvir a opinião dos outros, confiar e aceitar as pessoas, quando
conseguimos praticar os princípios espirituais. Enfim, as razões de nossa
felicidade passam a ser interiores.
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