A discussão de hoje é sobre nossa insistência
insana e improdutiva em tentar esconder nossos defeitos.
Segundo a Ética da Personalidade, em oposição à
Ética do Caráter, o sucesso e felicidade dependem muito mais de técnicas de relações
humanas e sociais do que qualquer reforma íntima. É o mesmo que dizer que nossa
imagem é o mais importante. Sendo assim, devemos explorar nossas qualidades e
maquiar nossos defeitos.
Por outro lado, é comum por parte de dependentes
químicos, principalmente na ativa, o medo de inferioridade e rejeição.
Influenciados por suas experiências, motivações e sentimentos temem que se as
pessoas descobrissem a verdade sobre eles, mesmo em relação ao passado,
provavelmente se afastariam. Este tipo de preocupação é fortemente responsável
pelo isolamento.
Por trás de tudo isto podemos destacar que há o que
aprendemos como código mental fixo ou permanente. Por considerar que seu caráter
está determinado e, assim, é imutável, a exposição de seus defeitos equivale à
confissão de seus fracassos porque não conseguiria se livrar deles. Entretanto,
para alguém com este tipo de código mental, não se discute esta possibilidade
tendo em vista que precisa de afirmações cotidianas de que aquilo que ele é o
faz melhor que as outras pessoas.
Por conseqüência, o dependente tende a utilizar-se
de máscaras criando assim uma personalidade que tem por objetivo tanto agradar
as pessoas como, principalmente, protegê-lo.
Quando conhecemos as experiências de outros
companheiros, descobrimos por que estes defeitos têm poder sobre nós enquanto
tentamos mantê-los escondidos de todos.
Lutar contra estes defeitos fazem parte do processo
de negação. Se lembrarmos quando tentávamos de várias maneiras controlar nosso
uso de álcool e outras drogas e não conseguíamos, isto nos deixava péssimos e
alimentava bastante nossa adicção. Da mesma maneira, quando tentamos provar a
nós mesmos que não temos algum defeito, as situações nos provam do contrário e
nos colocam na mesma situação constrangedora e destrutiva.
Gostamos de lembrar o exemplo citado pelo
psiquiatra Viktor Frankl em seu livro “Em busca de sentido” quando explica a
técnica criada por ele denominada logoterapia ou intenção paradoxal. “Caso semelhante foi me contado por um colega
(...). Fora o mais grave caso de gagueira que ele tinha visto em muitos anos de
profissão. De acordo com sua memória, nunca em sua vida o gago estivera livre
de seu problema de fala, com uma única exceção. Esta ocorreu quando ele tinha
doze anos, ao andar de bonde sem pagar passagem. Ao ser pego pelo cobrador,
pensou que a única maneira de se safar seria conquistar a compaixão dele e
tratou de demonstrar que era um pobre menino gago. Mas no momento em que tentou
gaguejar, foi incapaz de fazê-lo.”
Sempre utilizamos este trecho quando falamos do
processo de negação porque exemplifica claramente os resultados positivos da
admissão e aceitação. Precisamos aceitar nossos defeitos.
Em segundo lugar, fica muito claro como lutar
contra os defeitos pode nos transformar em uma grande panela de pressão a
explodir a qualquer momento.
Por último, a humildade necessária para o
reconhecimento de nossos defeitos é condição fundamental para a nossa mudança.
Duas questões são fundamentais neste processo de recuperação: começar a
desenvolver um novo código mental construtivo no sentido de reconhecer a
possibilidade de transformação pessoal e expor nossos defeitos. Se os defeitos
eram a razão de nossa vergonha, esta só poderá desaparecer se cumpridas estas
duas exigências, porque só assim poderemos ser ajudados.
É natural que não nos sintamos a vontade para expor
estes defeitos para todas as pessoas. Mas precisamos fazê-lo a algum
companheiro ou profissional de confiança. Dor partilhada é dor diminuída.
Por fim, descobriremos que é impossível para além
do curto prazo mantermos máscaras porque nossa imagem tende a refletir nosso
caráter. Podemos imaginar que necessitamos livrar nossa cara nos escondendo,
mas quando expomos nossos defeitos a alguém de confiança, esta pessoa nos
aceita, não nos aponta, nos entende e nos ajuda a melhorar. Descobrimos, então,
que ao fazê-lo, na verdade, estamos salvando nossa pele. Segundo a literatura
de Narcóticos Anônimos (NA), “estes
defeitos crescem no escuro e morrem à luz da exposição”.
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