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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Determinantes da Recaída - Parte 1


No texto de hoje daremos continuidade à série de discussões sobre a Prevenção de Recaída (PR) ou Plano de Prevenção de Recaída (PPR).

Algumas variáveis são determinantes para a ocorrência ou não do lapso, assim como do processo de recaída completa. Elas são classificadas entre intrapessoais e interpessoais. As intrapessoais incluem fatores ambientais, mas são assim genericamente chamadas porque estão relacionadas, de forma geral, à subjetividade, à pessoalidade, àquilo que é interior ou intrínseco de cada paciente. São elas: auto-eficácia, expectativas de resultado, motivação, enfrentamento, estados emocionais e fissura. Por outro lado, as interpessoais se referem aos relacionamentos de forma geral e são denominadas de apoio social.

Nesta primeira parte sobre estes determinantes, concentraremos nossa discussão na auto-eficácia, expectativas de resultado e motivação.

A auto-eficácia pode ser definida como o grau de confiança do paciente em sua própria habilidade de realizar determinado comportamento em um contexto específico, ou seja, a confiança que, para dadas situações consideradas de alto risco, o paciente reconhece e consegue aplicar estratégias de enfrentamento eficazes.

Por exemplo, ao perceber um bar na calçada onde está andando muda de lado porque aquilo tem apresentado resultados. Quando amigos que consomem bebidas alcoólicas o convidam para sair, não aceita o convite tendo em vista que poderá não resistir caso saia com os amigos. Ao sentir-se sozinho ou com outras emoções negativas procura um amigo ou profissional para conversar sobre porque, em outras situações, isto o manteve em recuperação. Naturalmente, com o tempo e a experiência de muitas estratégias, a auto-eficácia tende a aumentar. Quanto mais autoconfiante por o paciente, menores são as chances de uso.

As expectativas de resultados significam os efeitos que o paciente espera obter com o consumo de álcool e outras drogas. Estes efeitos são classificados entre positivos e negativos. Prazer, euforia, relaxamento, sociabilidade, ilusão, expansão do raciocínio, status, poder, segurança, entre outros, são considerados positivos. Depressão, ressaca, fobias ou medos, risco de morte, perda de emprego, morar na rua, entre outros, são considerados negativos.

Naturalmente as experiências anteriores tendem a influenciar a decisão de consumir drogas, cabendo destacar, também, que nem sempre os efeitos esperados correspondem necessariamente aos reais. O paciente que esperar prazer e euforia em relação ao uso tem muito mais chances de usar do que aquele que espera o estado depressivo, morrer por overdose, perder seu emprego ou ser expulso de casa pela família.

Por último, a motivação é um “estímulo consciente ou inconsciente para a ação rumo a um objetivo desejado, proporcionado por fatores psicológicos ou sociais; o que dá propósito ou direção ao comportamento”. Ela é considerada bidirecional porque se dá em duas direções, ou seja, tanto para a mudança positiva de comportamento como para o envolvimento com comportamentos-problema. Por isso é chamada de motivação para a mudança ou motivação para o uso.

O modelo de prontidão para a mudança (Prochaska e DiClemente. 1984) é dividido em cinco fases ou níveis; pré-contemplação, contemplação, preparação, ação e manutenção. Na Pré-contemplação, o paciente não está consciente do problema e não possui a intenção de mudar. Na Contemplação, o paciente está consciente do problema, mas ainda não tem a intenção de mudar. Na Preparação, o paciente tem a intenção de mudar. Na Ação, o paciente concretiza a mudança e na Manutenção, já aconteceu a mudança e o paciente está procurando manter o comportamento modificado. O estado desejado para a aplicação da Prevenção de Recaída é, no mínimo, a Preparação, pois nesta fase o dependente está consciência de sua doença e tem a intenção de mudança.

Notadamente, a motivação está relacionada tanto com a auto-eficácia quanto com as expectativas de resultado. Por exemplo, o paciente acreditar que não vai conseguir dizer não, que seu desempenho sem drogas será ruim ou que seus amigos usam e para fazer parte do grupo deve usar pode motivá-lo a usar. Ao contrário, se acreditar que usar pode deixá-lo muito mal, lembrar que está conseguindo enfrentar suas dificuldades e/ou problemas sem drogas, que está se autoconhecendo, pode concorrer para a manutenção da abstinência.

Na próxima parte, falaremos sobre as outras variáveis ou determinantes.

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