No texto de hoje daremos continuidade à série de
discussões sobre a Prevenção de Recaída (PR) ou Plano de Prevenção de Recaída
(PPR).
Algumas variáveis são determinantes para a
ocorrência ou não do lapso, assim como do processo de recaída completa. Elas
são classificadas entre intrapessoais e interpessoais. As intrapessoais incluem
fatores ambientais, mas são assim genericamente chamadas porque estão
relacionadas, de forma geral, à subjetividade, à pessoalidade, àquilo que é
interior ou intrínseco de cada paciente. São elas: auto-eficácia, expectativas
de resultado, motivação, enfrentamento, estados emocionais e fissura. Por outro
lado, as interpessoais se referem aos relacionamentos de forma geral e são
denominadas de apoio social.
Nesta primeira parte sobre estes determinantes,
concentraremos nossa discussão na auto-eficácia, expectativas de resultado e
motivação.
A auto-eficácia pode ser definida como o grau de
confiança do paciente em sua própria habilidade de realizar determinado
comportamento em um contexto específico, ou seja, a confiança que, para dadas situações
consideradas de alto risco, o paciente reconhece e consegue aplicar estratégias
de enfrentamento eficazes.
Por exemplo, ao perceber um bar na calçada onde
está andando muda de lado porque aquilo tem apresentado resultados. Quando
amigos que consomem bebidas alcoólicas o convidam para sair, não aceita o
convite tendo em vista que poderá não resistir caso saia com os amigos. Ao
sentir-se sozinho ou com outras emoções negativas procura um amigo ou
profissional para conversar sobre porque, em outras situações, isto o manteve
em recuperação. Naturalmente, com o tempo e a experiência de muitas
estratégias, a auto-eficácia tende a aumentar. Quanto mais autoconfiante por o
paciente, menores são as chances de uso.
As expectativas de resultados significam os efeitos
que o paciente espera obter com o consumo de álcool e outras drogas. Estes
efeitos são classificados entre positivos e negativos. Prazer, euforia,
relaxamento, sociabilidade, ilusão, expansão do raciocínio, status, poder,
segurança, entre outros, são considerados positivos. Depressão, ressaca, fobias
ou medos, risco de morte, perda de emprego, morar na rua, entre outros, são
considerados negativos.
Naturalmente as experiências anteriores tendem a
influenciar a decisão de consumir drogas, cabendo destacar, também, que nem
sempre os efeitos esperados correspondem necessariamente aos reais. O paciente
que esperar prazer e euforia em relação ao uso tem muito mais chances de usar do
que aquele que espera o estado depressivo, morrer por overdose, perder seu
emprego ou ser expulso de casa pela família.
Por último, a motivação é um “estímulo consciente ou inconsciente para a ação rumo a um objetivo
desejado, proporcionado por fatores psicológicos ou sociais; o que dá propósito
ou direção ao comportamento”. Ela é considerada bidirecional porque se dá
em duas direções, ou seja, tanto para a mudança positiva de comportamento como
para o envolvimento com comportamentos-problema. Por isso é chamada de motivação para a mudança ou motivação para o uso.
O modelo de prontidão para a mudança (Prochaska e
DiClemente. 1984) é dividido em cinco fases ou níveis; pré-contemplação,
contemplação, preparação, ação e manutenção. Na Pré-contemplação, o paciente
não está consciente do problema e não possui a intenção de mudar. Na Contemplação,
o paciente está consciente do problema, mas ainda não tem a intenção de mudar.
Na Preparação, o paciente tem a intenção de mudar. Na Ação, o paciente
concretiza a mudança e na Manutenção, já aconteceu a mudança e o paciente está
procurando manter o comportamento modificado. O estado desejado para a
aplicação da Prevenção de Recaída é, no mínimo, a Preparação, pois nesta fase o
dependente está consciência de sua doença e tem a intenção de mudança.
Notadamente, a motivação está relacionada tanto com
a auto-eficácia quanto com as expectativas de resultado. Por exemplo, o
paciente acreditar que não vai conseguir dizer não, que seu desempenho sem
drogas será ruim ou que seus amigos usam e para fazer parte do grupo deve usar
pode motivá-lo a usar. Ao contrário, se acreditar que usar pode deixá-lo muito
mal, lembrar que está conseguindo enfrentar suas dificuldades e/ou problemas
sem drogas, que está se autoconhecendo, pode concorrer para a manutenção da
abstinência.
Na próxima parte, falaremos sobre as outras
variáveis ou determinantes.
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